Américo da Penha Dias e Naná
N A N Á
Havíamos
perdido nossa querida Mãe no final do ano de 1.912 e éramos quatro irmaos:
Albertina, José, eu e Joaquim. Albertina, desde o nascimento fora criada por
sua Madrinha D. Cornélia, esposa do nosso Tio João Antonio de Araújo - Janjão
do Pilatos como era conhecido - e meio irmão da nossa Mãe.
José,
afilhado da nossa irmã Sá Pedra, foi levado para a sua grande e rica Fazenda
Boa Vista de Baixo e eu também fui levado para lá, a fim de ficarmos sempre
juntos. Joaquim foi para a casa de
Raymundo Anastácio Ribeiro, e lá morreu.
No
ano de 1.917 nos matriculamos no Grupo Escolar Dr. Gomes Lima em Dionisio, que
ficava na Rua da Baixada, próximo ao local onde eu e Naná mais tarde
construimos nossa casa.
No
segundo dia de aula, ao passar em frente de uma casa do lado de baixo - lado
direito da rua depois do sobrado do Sr. João Ferreira - estava lá uma garotinha
na porta da rua, com as mãozinhas segurando nas tabuletas da
cancela, vendo a passagem da meninada que vinha da escola. Sua pele alva como a
neve, seus cabelos compridos e lisos, amarelos como ouro; trajava um vestidinho
branco e calçava meias azul clara com sapatinhos da mesma cor e seus olhos eram
duas esmeraldas incrustadas naquele rosto de incomparável beleza.
O Taozinho de João
Ferreira, companheiro meu de carteira -estávamos sempre juntos - por isso eu
perguntei a ele se conhecia aquela menina e ele respondeu que era Naná, filha
do seu Tio Quinquim Ferreira e era muito brava e também muito bonita e
inteligente. Depois de muito tempo ela
desapareceu como a Cinderela e nem deixou o sapatinho.
No ano de 1.923 eu recebi o diploma do Quarto Ano e vim para Belo Horizonte e só depois de três meses foi que souberam onde eu estava porque D. Izaura mandou carta para Sá Pedra.
No ano de 1.923 eu recebi o diploma do Quarto Ano e vim para Belo Horizonte e só depois de três meses foi que souberam onde eu estava porque D. Izaura mandou carta para Sá Pedra.
No
ano de 1.927 alistei-me na Policia Militar, o 50 Batalháo de Elite
do Presidente Antônio Carlos Ribeiro de Andrada. No dia 3 de outubro de 1.930 começou a
Revolução que terminou no final do mes,
24 de outubro.
Em
janeiro de 1.931 tui excluido por conclusao de tempo da Polícia Militar,
ficando classificado como reservista de Segunda Categoria do Exército. Nesse
mesmo janeiro, ao voltar para casa, José foi com três animais me esperar em Dom
Silvério e a viagem até Dionisio foi como se estivéssemos andando no Paraíso,
quando eu pedia informações sobre Dionisio e ele querendo saber como era a vida
no quartel. Foram momentos que passamos
juntos e felizes. Quando eu era menino e não saia de casa, ele me levou para
conhecer Goiabal, me levou a Dom Silvério para conhecer o trem de ferro e
quando comecei a ir com ele e a rapaziada para as festas, bailes,
etc. era ele quem me arranjava damas porque eu não sabia sequer conversar com
as moças.
Eu
me cansava de perguntar pela Naná, mas ninguém sabia nada, até que
contratei casamento com a Josefina, filha da Josefa da Boa Vista de Cima, mas,
não durou mais que dois anos. No dia 9 de julho de 1.932, estourou a Revolução
Constitucionalista em São Paulo e no dia 15 do mesmo eu já me encontrava
engajado no 180 Batalhão de Infantaria. No dia 24 de outubro, como a
anterior, ela também terminou.
Em
janeiro de 1.933 voltei para casa e no primeiro domingo de Missa, ao sair da
igreja, vi Naná descendo a calçada da igreja e encontramos, mas só um alô, como
vai, etc., pois só olhares diziam tudo porque não se podia conversar.
Naquele
mesmo dia antes de anoitecer, Júlia, filha do nosso amigo Lucas antes de chegar
em casa que era perto, passou na Fazenda e me deu o recado dela: “Fala para ele
que nunca o esqueci e que esse noivado idiota não vale nada e que se ele é o
homem que penso que deve ser, acabe logo com essa farsa.”
Naquele
mesmo momento escrevi a carta e no dia seguinte o amigo Quicia foi bem cedo
entregá-la e como sempre, Júlia cuidou de procurar Naná e comunicar-lhe e ela
ficou alegre. Lá em Dionisio o Sr.
Joaquim Garcia, homem muito rico, era amigo de todos, já me havia beneficiado
bastante, colocou-me agora na sua grande máquina de beneficiar café e que
estava bem em frente de onde Naná morava, cuja casa até hoje se encontra como
antes naquele local, hoje habitada por outros.
Eu
começava muito de madrugada naquela máquina, mas antes de entrar tinha que
parar no portáo porque a Naná já estava lá a minha espera, ainda muito cedo.
Foi
um casamento muito feliz e nosso amigo José João Garcia foi o único
responsável pelo bom éxito de toda essa felicidade.
No
dia 27 de abril de 1935 eu e Naná ouvimos do Padre Pedro as duras
palavras na igreja: “... até que a morte os separe”.
No
cartório o Sr. Joaquim Garcia “juiz” me perguntou qual era agora o nome dela e
eu respondi que ela e eu tínhamos os nomes sagrados que recebemos da igreja ao
sermos batizados e recebidos os santos óleos. Ao sair da casa dela para a nossa
casa na Rua da Baixada, o amigo José João mesmo debaixo de chuva, nos
acompanhou. O Sr. Joaquim Garcia me deu
aquela casa para morarmos até que terminássemos de construir a nossa.
D.
Luiza Fernandes foi o nosso Anjo da Guarda, não falhava um só dia sem ver como
passamos e deixava lá a Tiná até voltar para a sua casa á tarde. A Tiná tinha
talvez uns cinco anos e mesmo assim fazia café e almoço lá em casa, tal era a nossa grande inexperiéncia, com
Naná sempre doente.
Em
1.957 mudamos para Belo Horizonte.
Neville
faleceu em 1958.
Construimos
nossa casa e aqui vivemos felizes durante muitos anos.
No
dia 4 de novembro de 1.995 eu e Maria viajamos para Acesita para assistirmos o
sepultamento de José meu irmão. No dia
04 de novembro, Denise estava em Acesita para o velório de seu Tio José, a quem
muito estimava. No dia seguinte iniciamos a viagem de volta para Belo
Horizonte, mas como tivemos de passar pela fazenda de Denise, que é caminho,
ela fez almoço, depois do qual apanhamos Andrea que lá estava e prosseguimos
viagem até o destino e Delzita nos recebeu com a triste noticia. Lá estavam,
também, a Míriam e Ilce já andava cuidando de tudo necessário para o dia
seguinte.
Ali
estava ela deitada como em repouso, com o semblante mais alegre de quem recebeu
uma boa noticia. Era amiga de todos e nao havia quem não a conhecesse e quando
havia qualquer dificuldade, logo informavam: “procure Naná”.
Belo Horizonte, 27 de agosto de 1.998
Américo da Penha Dias
N A N Á
Eram trés irmaõs: Naná, José e Sebastiao, que é conhecido como "Basinho". Naná ao completar 17 anos casou-se e, com sua familia quase criada, mudou-se para Belo Horizonte em 1957. Em 1958, Neville morreu. Ela morreu em 1995.
José, o outro irmão, se mudou para a Bahia. Nunca mais voltou e por lá morreu.
Basinho, o
mais moco, ao se tornar adulto transformou sua vida em um auténtico campo de
trabalho, prestando serviço a quem o procurasse. Experimentou o comércio de
açougue e, em um pleito eleitoral,
candidatou-se a um cargo eletivo, e foi o vereador mais votado naquela regiao.
Mais tarde ele se casou com uma moca de inigualáveis qualidades, filha de
excelente familia. Criaram seus flíhos com a maior dedição e esmero que muito
enaltece o nome dos Ferreira Nunes, a maior e mais nobre familia de Dionisio e
com ramificações em outras cidades circunvisinhas.
Naná foi
uma mulher insubstituivel e incomparável. O meu maior orgulho foi o de ter me
casado com ela, achava muito bonito quando ela assinava aquele nome em algum
documento qualquer: Maria Ferreira Nunes.
Belo
Horizonte, 25 de setembro de 1998
Américo da
Penha Dias
OBS: Na
foto Naná está com as filhas Ilse e Denise
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