sexta-feira, 28 de outubro de 2011

NANÁ - UMA HISTÓRIA DE AMOR - Américo Dias


Américo da Penha Dias e Naná

N A N Á
                Havíamos perdido nossa querida Mãe no final do ano de 1.912 e éramos quatro irmaos: Albertina, José, eu e Joaquim. Albertina, desde o nascimento fora criada por sua Madrinha D. Cornélia, esposa do nosso Tio João Antonio de Araújo - Janjão do Pilatos como era conhecido - e meio irmão da nossa Mãe.
                José, afilhado da nossa irmã Sá Pedra, foi levado para a sua grande e rica Fazenda Boa Vista de Baixo e eu também fui levado para lá, a fim de ficarmos sempre juntos.  Joaquim foi para a casa de Raymundo Anastácio Ribeiro, e lá morreu.
                No ano de 1.917 nos matriculamos no Grupo Escolar Dr. Gomes Lima em Dionisio, que ficava na Rua da Baixada, próximo ao local onde eu e Naná mais tarde construimos nossa casa.
                No segundo dia de aula, ao passar em frente de uma casa do lado de baixo - lado direito da rua depois do sobrado do Sr. João Ferreira - estava lá uma garotinha na porta da rua, com as mãozinhas segurando nas tabuletas da cancela, vendo a passagem da meninada que vinha da escola. Sua pele alva como a neve, seus cabelos compridos e lisos, amarelos como ouro; trajava um vestidinho branco e calçava meias azul clara com sapatinhos da mesma cor e seus olhos eram duas esmeraldas incrustadas naquele rosto de incomparável beleza.
           O Taozinho de João Ferreira, companheiro meu de carteira -estávamos sempre juntos - por isso eu perguntei a ele se conhecia aquela menina e ele respondeu que era Naná, filha do seu Tio Quinquim Ferreira e era muito brava e também muito bonita e inteligente.  Depois de muito tempo ela desapareceu como a Cinderela e nem deixou o sapatinho.
                No ano de 1.923 eu recebi o diploma do Quarto Ano e vim para Belo Horizonte e só depois de três meses foi que souberam onde eu estava porque D. Izaura mandou carta para Sá Pedra.
                No ano de 1.927 alistei-me na Policia Militar, o 50 Batalháo de Elite do Presidente Antônio Carlos Ribeiro de Andrada.  No dia 3 de outubro de 1.930 começou a Revolução que terminou no final do mes,  24 de outubro.
                Em janeiro de 1.931 tui excluido por conclusao de tempo da Polícia Militar, ficando classificado como reservista de Segunda Categoria do Exército. Nesse mesmo janeiro, ao voltar para casa, José foi com três animais me esperar em Dom Silvério e a viagem até Dionisio foi como se estivéssemos andando no Paraíso, quando eu pedia informações sobre Dionisio e ele querendo saber como era a vida no quartel.  Foram momentos que passamos juntos e felizes. Quando eu era menino e não saia de casa, ele me levou para conhecer Goiabal, me levou a Dom Silvério para conhecer o trem de ferro e quando comecei a ir com ele e a rapaziada para as festas, bailes, etc. era ele quem me arranjava damas porque eu não sabia sequer conversar com as moças.
                Eu me cansava de perguntar pela Naná, mas ninguém sabia nada, até que contratei casamento com a Josefina, filha da Josefa da Boa Vista de Cima, mas, não durou mais que dois anos. No dia 9 de julho de 1.932, estourou a Revolução Constitucionalista em São Paulo e no dia 15 do mesmo eu já me encontrava engajado no 180 Batalhão de Infantaria. No dia 24 de outubro, como a anterior, ela também terminou.
                Em janeiro de 1.933 voltei para casa e no primeiro domingo de Missa, ao sair da igreja, vi Naná descendo a calçada da igreja e encontramos, mas só um alô, como vai, etc., pois só olhares diziam tudo porque não se podia conversar.
                Naquele mesmo dia antes de anoitecer, Júlia, filha do nosso amigo Lucas antes de chegar em casa que era perto, passou na Fazenda e me deu o recado dela: “Fala para ele que nunca o esqueci e que esse noivado idiota não vale nada e que se ele é o homem que penso que deve ser, acabe logo com essa farsa.”
                Naquele mesmo momento escrevi a carta e no dia seguinte o amigo Quicia foi bem cedo entregá-la e como sempre, Júlia cuidou de procurar Naná e comunicar-lhe e ela ficou alegre.  Lá em Dionisio o Sr. Joaquim Garcia, homem muito rico, era amigo de todos, já me havia beneficiado bastante, colocou-me agora na sua grande máquina de beneficiar café e que estava bem em frente de onde Naná morava, cuja casa até hoje se encontra como antes naquele local, hoje habitada por outros.
                Eu começava muito de madrugada naquela máquina, mas antes de entrar tinha que parar no portáo porque a Naná já estava lá a minha espera,  ainda muito cedo.
                Foi um casamento muito feliz e nosso amigo José João Garcia foi o único responsável pelo bom éxito de toda essa felicidade.
                No dia 27 de abril de 1935 eu e Naná ouvimos do Padre Pedro as duras palavras na igreja: “... até que a morte os separe”.
                No cartório o Sr. Joaquim Garcia “juiz” me perguntou qual era agora o nome dela e eu respondi que ela e eu tínhamos os nomes sagrados que recebemos da igreja ao sermos batizados e recebidos os santos óleos. Ao sair da casa dela para a nossa casa na Rua da Baixada, o amigo José João mesmo debaixo de chuva, nos acompanhou.  O Sr. Joaquim Garcia me deu aquela casa para morarmos até que terminássemos de construir a nossa.
                D. Luiza Fernandes foi o nosso Anjo da Guarda, não falhava um só dia sem ver como passamos e deixava lá a Tiná até voltar para a sua casa á tarde. A Tiná tinha talvez uns cinco anos e mesmo assim fazia café e almoço lá em casa,  tal era a nossa grande inexperiéncia, com Naná sempre doente.
                Em 1.957 mudamos para Belo Horizonte.  
                Neville faleceu em 1958.
                Construimos nossa casa e aqui vivemos felizes durante muitos anos.
                No dia 4 de novembro de 1.995 eu e Maria viajamos para Acesita para assistirmos o sepultamento de José meu irmão.  No dia 04 de novembro, Denise estava em Acesita para o velório de seu Tio José, a quem muito estimava. No dia seguinte iniciamos a viagem de volta para Belo Horizonte, mas como tivemos de passar pela fazenda de Denise, que é caminho, ela fez almoço, depois do qual apanhamos Andrea que lá estava e prosseguimos viagem até o destino e Delzita nos recebeu com a triste noticia. Lá estavam, também, a Míriam e Ilce já andava cuidando de tudo necessário para o dia seguinte.
                Ali estava ela deitada como em repouso, com o semblante mais alegre de quem recebeu uma boa noticia. Era amiga de todos e nao havia quem não a conhecesse e quando havia qualquer dificuldade, logo informavam: “procure Naná”.
Belo Horizonte, 27 de agosto de 1.998
Américo da Penha Dias









N A N Á

Eram trés irmaõs: Naná, José e Sebastiao, que é conhecido como "Basinho". Naná ao completar 17 anos casou-se e, com sua familia quase criada, mudou-se para Belo Horizonte em 1957. Em 1958, Neville morreu. Ela morreu em 1995.

José, o outro irmão, se mudou para a Bahia. Nunca mais voltou e por lá morreu.

Basinho, o mais moco, ao se tornar adulto transformou sua vida em um auténtico campo de trabalho, prestando serviço a quem o procurasse. Experimentou o comércio de açougue e,  em um pleito eleitoral, candidatou-se a um cargo eletivo, e foi o vereador mais votado naquela regiao. Mais tarde ele se casou com uma moca de inigualáveis qualidades, filha de excelente familia. Criaram seus flíhos com a maior dedição e esmero que muito enaltece o nome dos Ferreira Nunes, a maior e mais nobre familia de Dionisio e com ramificações em outras cidades circunvisinhas.

Naná foi uma mulher insubstituivel e incomparável. O meu maior orgulho foi o de ter me casado com ela, achava muito bonito quando ela assinava aquele nome em algum documento qualquer: Maria Ferreira Nunes.
Belo Horizonte, 25 de setembro de 1998
Américo da Penha Dias

OBS: Na foto Naná está com as filhas Ilse e Denise

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