sexta-feira, 28 de outubro de 2011



O PORCO DO AGENOR


             O Agenor era um típico roceiro lá daquelas bandas do arraial de Dionísio. Roceiro simples,  daqueles desconfiados, sempre com seu cigarrinho de palha nas mãos ou na boca. Dentes amarelados pelo alcatrão do forte fumo de rolo e mãos calejadas pelo trabalho no campo. Roupas puídas, com alguns remendos, pés descalços e aquela também conhecida sacola nas costas, inseparável sacola nas costas, que era usada quando ia resolver algum negócio no arraial, ou mesmo tomar aquela santa pinguinha ao final de certos dias.

O Agenor era simples, porém, nunca um tolo. Ganhava sua vida em seu pequeno sítio, que dava prá ir sustentando aquela reca de meninos, que aumentava a cada dois anos com o nascimento de mais um. As vezes a providência divina levava de volta um deles, para poder facilitar um pouco a luta pela sobrevivência do Agenor e de sua Dona.

Um caipira calado e inteligente nos limites de sua ignorância que fazia a alegria de todos pelos exageros com que tratava seus pertences.

Uma vez, um de seus porquinhos começou a crescer muito. Agenor se espantava a cada semana. – Como cresce este leitão ! Este é dos bão !.

Passados dois meses, Agenor teve de aumentar o chiqueiro. O porquinho não cabia mais naquele pequeno chiqueiro, de onde já havia retirado os outros leitões. Entre o espanto e o incômodo, o Agenor ajuntou algumas tábuas velhas e conseguiu aumentar o chiqueiro em mais um metro aproximadamente.

O porco continuava a crescer e passou a ser atração do arraial. Muitas pessoas passaram a visitar o tímido sítio do Agenor para ver aquele porco descomunal. As semanas iam passando e o porco crescendo. Era o assunto principal nas rodas de conversa pingada em Dionísio e redondezas. O porco e seu dono já ficavam famosos.

Agenor já andava inquieto para apurar uns mil réis com a venda de tanta gordura e carne, porém, todos lhe falavam para aguardar, pois o gigantesco suíno ainda não parara de crescer. O chiqueiro foi novamente aumentado, desta vez com mais alegria, pois a expectativa da grande venda de carnes e gorduras fazia os olhos do Agenor brilharem de cobiça.

Mais alguns meses transcorreram e finalmente aquele monstrinho parou de crescer, e já não era sem tempo, porque o pobre do Agenor sofria tremendamente para conseguir dar de comer à aquele bitelo. Já estava ficando extenuado de tratar daquela aberração. Havia algo que fascinava o Agenor; ele ficava empolgadíssimo ao contar as vantagens sobre o tamanho de seu porco.

Agenor se prepara para matar o seu porco de estimação e contam que o suino era tão grande, que Dionísio somente não absolveria toda carne, toucinho e miudos do porco. Surge um impasse, pois, naquele tempo, não possuíamos naquelas bandas as preciosas geladeiras, nem mesmo de querosene; na verdade não tinhamos geladeira, nem energía elétrica, nem ao menos as estradas para carroças ou carros.

Agenor montou em sua égua de estimação, cheio de orgulho e partiu para os arraiais vizinhos, com o objetivo de vender sua produção; visitou Goiabal, Marliéria, e Jaguaraçu, Juirassu e Alfié, até conseguir comercializar todo o toucinho, carnes e miudos.

Agenor contava isto com muito entusiasmo, como a grande façanha de sua vida, quando um dos presentes lhe perguntou: - Agenor como ocê vai entregá tanta carne? Ocê nem tem uma tropa uai! 

Todos ficaram em silêncio, já que pelas narrativas seria necessário um comboio de trem ou o Titanic para transportar tanta carne e toucinho. Todos esperaram a resposta...

Agenor, pêgo de surpresa, pára, pensa......  Os segundos rolam e a expectativa é geral.... Agenor em sua simplicidade diz displicentemente: - No lombo de minha égua, uai. Por aqui só tem um animal que consegue levá tanta coisa!!!

Todos se espantaram, pois ninguém conhecia um animal tão grande naquelas bandas. Êta eguinha grande sô !!!!!


CAUSOS DE MEU PAI PERÁCLITO AMERICANO

Fábio Americano
BH -Março/2000

2 comentários:

  1. Eita!!!! E eu que achava que meu vô é que tinha porcos gigantes... kkkkkkk..

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  2. E por falar em geladeira a querozene,conhecí uma que funcionava muito bem,daquelas que tinha tranca na maçaneta,no bar do seu Coló (Claudindino Vicente de Oliveira)o ferreiro,que por sinal descobrí atravéz deste blog,que já foi vereador nos anos 60.Ouví dizer,aliáz, de sua propria propria boca,que lá na fazenda do Raimudo Bicalho,existia uma movida à gaz de cozinha,qdo ainda n~~ tinha luz eletrica.

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