quinta-feira, 1 de setembro de 2016

A HISTÓRIA E O CONHECIMENTO DE SI MESMO - Fábio Americano


MEU ENCONTRO COM A HISTÓRIA

O cultivo da história sempre foi uma vocação natural. Era minha matéria predileta já nos tempos da escola primária. Mais tarde os temas históricos eram os preferidos para as leituras e filmes.

Com o passar dos anos, fui entendendo que não era somente vocação, existiam outros motivos pelos quais eu buscava tanto os fatos históricos. Tudo que fosse relacionado a história me interessava.  As minhas inquietudes frente aos mistérios da vida ficavam cada vez mais agudas e como muitos de meus ancestrais eu precisava saber mais sobre o que sou, de onde vim e para onde vou? Questões que persistem para os homens a milhares de anos.

A milenar inscrição do Templo de Delfos desde muito cedo se manifestava em mim como um anelo: “Conhece-te a ti mesmo! ” A busca que começou de forma desordenada com leituras de muitas correntes de pensamentos e espiritualistas ficou organizada e bem orientada quando encontrei uma escola, um método, ensinamentos e um ambiente adequado a este tipo de estudos. Em 1987 incorporei este desafio na minha vida iniciando um caminhar nesta senda que já dura quase trinta anos.

O Criador da Ciência Logosófica, Gonzalez Pecotche nos ensina que o conhecimento de si mesmo

"...é pois, o conhecimento que a alma aspira alcançar de seu próprio espírito;
 é a via que conduz ao encontro e conexão com o mundo metafísico."

"... é o encontro e identificação com o próprio espírito".

Sempre existiram em mim necessidades de conhecer a razão de ser das coisas, a formação estrutural, a organização, a lógica de funcionamento. Estas necessidades tornaram-se estímulos para procurar entender a essência de meu ser: quais forças me movem, porque que sou como sou, quais as origens de meu pensar e sentir, porque gosto ou não gosto de algo, porque das oscilações temperamentais, o que tenho de bom e pode ser aprimorado, o que tenho em minha conduta que precisa evoluir; etc., etc.

Nos estudos e experimentações necessários ao avanço do conhecer a mim mesmo, constatei que o conhecimento da minha própria história é fundamental, descobri que parte importante dos segredos do conhecimento do meu mundo interno, do que penso e sinto, das reações, emoções, sensações e impressões, estavam dispersos e encobertos em minha própria história. Descobri que nestas nuvens de fatos perdidas nos tempos passados eu deveria buscar e tornar consciente todas as influencias que recebi de tudo e de todas pessoas com as quais me relacionei desde o dia em que nasci nesta etapa de vida.

Como era minha família? Quais as características psicológicas das pessoas com as quais convivi? Quais heranças de conhecimentos recebi de meus ancestrais? Avós, pais, tios, irmãos? E dos meus professores, amigos, colegas de estudo? E as influências do ambiente de trabalho... E do meio ambiente social? As inculcações de correntes políticas e religiosas... A influência da mídia, dos modismos, da massificação de conceitos e preconceitos, e etc.

Enfim, a busca para identificar as influencias, ensinamentos e principalmente os exemplos que recebi ao longo da vida e que foram determinantes na definição das características de minha psicologia, de meu modo de ser, de meu caráter, de meus hábitos?

Quando eu nasci, minha mente era uma “terra virgem e fértil”. Quem semeou o que, nesta mente vazia e fértil para o aprendizado? Quando semeou, como, onde, porque? Foram boas e puras as sementes dos conhecimentos que eu recebi? Quais sementes não foram boas para a minha vida? Perguntas que somente podem ser respondidas na investigação da minha própria história; respostas que para serem alcançadas necessitam ser antecedidas pela formação de uma consistente base conceitual sobre a concepção biopsicoespiritual do homem.

Aqueles que buscam o conhecimento de si mesmo, sabem que a investigação da herança cultural desta etapa de vida, é somente uma parte do “conhece-te a ti mesmo”. Que existem outros incontáveis e complexos aspectos a investigar dos quais destaco a investigação da própria herança espiritual e das modalidades psicológicas individuais que são exteriorizadas nas nossas condutas no dia a dia.

Nestes estudos que realizei ao longo de anos sobre a minha própria história e a história do Processo da Criação, fui alcançando algumas compreensões que considero muito interessantes:

       Que a história é a base de todo conhecimento abarcado pelo homem e também a base para o desenvolvimento da consciência individual e coletiva.

Que toda documentação dos conhecimentos que possibilitam a evolução do homem são documentos históricos.

Que historiar é um exercício de recordar.

Que a recordação contém a essência do eterno e não há recordação sem as histórias.
Como diz o dito popular “Recordar é viver”, é reviver, viver novamente.
Recordar é dar ao coração. Recordar é dar cor e ação ao passado.
Recordar é dar cor e vida aos sentimentos, é viver novamente em espírito, é eternizar.

Que sem a história não existe consciência e sem a recordação não existe eternidade.

Que é o exercício de recordar a história que nos possibilita unir as três dimensões do tempo eterno: o passado, o presente e o futuro.

Que a história traz o passado ao presente e levará o presente ao futuro.

A história se transformou em um precioso e prazeroso hobby. No início os estudos objetivavam conhecer aspectos da história de minha família, conhecer a minha herança cultural familiar; depois as pesquisas foram ampliadas pois me senti atraído a viajar no tempo para melhor entendimento contextual de situações e atitudes. Queria compreender as partes do passado que vivem em meu presente integradas ao meu ser interno, e nestas buscas encontrei um tesouro: os escritos de minha mãe contando a história da família e de nossa terra natal Dionísio.

Estes documentos históricos produzidos por minha mãe me estimularam a ampliar as pesquisas, o que me proporcionou também a expansão da vibração, da energia e da alegria no realizar este trabalho que me criou oportunidades de reencontro com alguns velhos conhecidos. Descobri milhares de fotos antigas e alguns documentos raros em fundos de baús e gavetas. Vivi incontáveis horas de conversas com os velhos conhecidos da família, ou com desconhecidos velhos e encontrei novos conhecidos vivendo uma diversidade de contatos muito enriquecedora sob todos os aspectos.

Pude vivenciar parcialmente o tempo em que viveram meus pais, o tempo em que compadres e comadres ao final do dia se assentavam nos bancos frente às casas para uma boa conversa. Senti um gostinho especial daquele acolhimento afetuoso que existia entre as famílias amigas em um passado não muito distante. Fui sempre recebido com o tradicional café acompanhado de tantas delicias caseiras: pães de queijos, queijos da roça, broas de fubá, bolos e biscoitos de polvilho que sempre surgiam durante as conversas que muitas vezes chegaram quase ao amanhecer de um novo dia.

Mas existem muitos detalhes que agora não cabem neste relato.
As pesquisas foram atividades extraordinariamente sensíveis que tocaram profundamente meu espírito; atividades absolutamente inesquecíveis nas quais eu fui encontrando, unindo, reunindo e tornando conscientes muitos fragmentos de minha vida herdados de um passado que estava escondido nas nuvens do tempo. São fragmentos de histórias que estavam dispersas e que agora vão se transformando em fragmentos de consciência na integração dos valores do meu ser eterno. 

Hoje não tenho dúvidas que para ter consciência do 'de onde vim?', do 'o que eu sou?' e do 'porque eu sou?' eu preciso conhecer as histórias vividas em todos os tempos e lugares, e que, para ser consciente do 'para onde vou?' (fisicamente e espiritualmente) eu preciso saber projetar e realizar conscientemente a história que quero viver no futuro.

Para mim a história tem algo de místico e se confunde com a eternidade. Tudo que existe tem a sua história, toda a Criação tem a sua história e o que ainda não se realizou, não foi criado, quando se realizar também estará integrado na história.

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"Cada um deve aprender a gravar a sua verdadeira imagem para chegar a ser capaz de refleti-la sem defeitos, e a escrever por si mesmo sua história para encontrar sempre nela, nesse caudal de recordações, um aliciente para a sua vida.

Quanto mais brilhantes seja suas páginas, maior será a felicidade que experimentará ao lê-las". 
Gonzalez Pecotche - Revista Logosofia número 49

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Fragmentos do discurso realizado por Fábio Americano em 12/03/2016 na ocasião de sua posse como Associado Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, onde é titular da Cadeira 86, e tem como Patrono Dr. Daniel Serapião de Carvalho.

http://dionisiano.blogspot.com.br/2016/08/daniel-serapiao-de-carvalho-um.html




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