UM SÉCULO DEPOIS, OS
HOMENS PIORAM
"GOIABAL — DEZEMBRO DE 1959"
Por volta daquele ano, 1886, o sistema eleitoral brasileiro
era interessantíssimo e mesmo um tanto complicado.
OS ELEITORES eram eleitos pelos votantes "Zé
Povinho". Assim eram chamados todos os que atingiam a maioridade — 21 anos
— soubessem, ou não, ler e escrever. Todavia, não podiam ser ELEITORES os
analfabetos. Só os que não o eram poderiam sê-lo. Eram eleitos por tempo
indeterminado, como os nossos vereadores de hoje. O alistamento dos votantes
era feito ex ofício, apenas o camarada atingisse os 21 anos.
Tal qual hoje, cada cidade ou distrito dava certo número de
eleitores, de acordo com a população, id est, o número de habitantes.
Por exemplo, enquanto a hoje cidade de Antônio Dias dava 10
eleitores, Itabira, que era composta dos atuais municípios de São Domingos do
Prata, Ferros, Santa Maria, S. José da Lagoa (Nova Era), abrangendo ainda os
municípios de Goiabal, Dionísio, Marliéria e Jaguaraçu, além de Alfié, Vargem
Linda e Juiraçu, dava um total de 100 eleitores. Antes de 15 de novembro de
1889, (Proclamação da República), havia dois partidos: o LIBERAL e o
CONSERVADOR, que eram conservados no poder, seguindo a vontade de S. Majestade
o Imperador d. Pedro II. Eram mais ou menos equilibrados. Enquanto em Itabira
havia certo equilíbrio, já em Antônio Dias, os Liberais eram em número
reduzidíssimo. As eleições se realizavam na Matriz e duravam três dias, até que
comparecessem todos os votantes, (comparecimento obrigatório). Enquanto isso, a
Igreja permanecia sob guarda policial, alerta. O não comparecimento implicava o
dever de justificar-se o votante.
Em 1860, feriu-se uma votação para eleitores, em Antônio
Dias. Os CONSERVADORES elegeram 10, enquanto que os LIBERAIS não conseguiram
eleger um só, nem mesmo o vigário, que era candidato.
Padre Antônio Braga era o pároco de então, e, por sinal,
chefe dos LIBERAIS derrotados. Ficou furioso o padre Braga e dizia: Que
desaforo!! Meu sacristão se fez eleitor e eu não. O sacristão chamava-se José
Firmino.
Pouco tempo depois, houve, em Itabira, uma eleição para
Deputado Geral, (hoje, Federal). E lá, que era a sede do Colégio Eleitoral,
votariam os eleitores dos municípios, os de Santa Bárbara, ao qual já
pertenciam S. Domingos do Prata e Conceição do Serro.
Foram candidatos: Dr. Penido, advogado em Ouro Preto e
Monsenhor Felicíssimo, vigário de Itabira.
O Professor José Antônio de Brito,
que fora eleito "ELEITOR", em Antônio Dias, também do CONSERVADOR,
tomou parte no pleito de Itabira. A eleição se verificou na matriz da cidade.
Momentos antes do início, o Professor José Antônio de Brito foi chamado à
sacristia pelo Cel. Joaquim Martins da Costa, chefe Liberal da Lagoa, a fim de
pedir-lhe o voto para o Monsenhor, que era dos LIBERAIS. Impossível trair meu partido; não posso ser-lhe agradável. Seu Brito, eu lhe faço alguma coisa: posso dar-lhe em troca
de seu voto um conto de Reis. Ei-lo, tome. Indignado contra a proposta, o
professor Brito abandonou a sacristia, para cumprir seu dever: o de votar em
Dr. Penido, do partido Conservador.
Era uma oferta tentadora, pois correspondia 2.1/2 anos de
professorado, uma vez que ganhava por ano 400 mil réis. A proposta foi
rejeitada, porque, naquela época, o caráter e a palavra valiam mais que o
dinheiro, ainda mesmo soma avultada. Entretanto, dois ou três outros tiveram o mesmo convite,
venderam seus votos e com eles o caráter e a palavra.
Isso valeu a vitória do monsenhor Felicíssimo para os
liberais.
Vitorioso, e sabedor da negativa do Professor Brito, que lhe
não deu o voto, nem a troco de dinheiro, o Monsenhor iniciou uma campanha de
perseguição ao honrado, leal e bom professor Brito. Incumbiu o Pe. Braga,
inescrupuloso como ele, de fazer um abaixo-assinado, em Antônio Dias, tendo
conseguido apenas 17 assinaturas. Foi quanto bastou para que fosse demitido do
cargo o professor Brito, que já contava com 20 anos de bons serviços ao ensino
primário.
Homem de têmpera, resolveu ir até Ouro Preto, sede da província. Em
companhia de seu filho Fabriciano de Brito (mais tarde, Cel. Fabriciano),
cavalgaram ambos Bons animais de sela e rumaram ao destino.
Passando por Santa Bárbara, entendeu-se com o Cel. Joaquim
Camilo Teixeira da Mota, em uma fazenda no Rio São João, o qual, além, era
Inspetor da Instituição em Minas. Disse o Cel. ao Professor Brito que nada podia fazer em seu
favor, porque não estava em sua alçada; más forneceu um atestado honrosíssimo .
De posse de tal documento e dado por uma autoridade, rumou
para Ouro Preto em companhia de seu filho Fabriciano de Brito. Procurou o Dr.
Penido, entregou-lhe o atestado do Cel. Mota e outros documentos. Indo ao
palácio, voltou com a resposta de que a denúncia era de caráter reservado e
irrevogável. Sabendo, porém, em Palácio, o Dr. Penido, que em "Sant'Ana do
Alfié", lutavam por uma escola, deu carta ao Professor Brito para que
obtivesse, lá, um abaixo-assinado neste sentido e que dessa forma dariam
solução ao caso.
Partiram de volta para Alfié, próximo de Antônio Dias, mais ou
menos 14 quilômetros, e sem dificuldade, conseguiu o abaixo-assinado, pedindo
ao governo a criação de uma escola no distrito.
Tendo conseguido o número de assinaturas exigido, foi o
documento entregue ao Dr. Penido, que obteve a criação da escola do Alfié — a
primeira e para ela foi nomeado o Professor José Antônio de Brito, pai do Cel.
Fabriciano de Brito, de saudosa memória, e avô do Dr. Euzébio Thomaz de
Carvalho Brito, deputado residente no Rio.
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Nota: Era também,
filho do Cel. Fabriciano, o Dr. Manoel Thomaz de Carvalho Brito, que foi
Deputado Estadual, Federal e Senador, tendo também assumido a Secretaria do
Interior no Governo João Pinheiro. Nessa época assumiu o comando de todas as
Secretarias do Estado, inclusive a de Educação. Promoveu, então, a primeira
reforma do ensino no estado, tendo construído os primeiros Grupos Escolares no
interior de Minas, em Itabira e em Antônio Dias. Foi Diretor da Cia. de
eletricidade de Belo Horizonte (1912 a 1925), presidente do BBSA e dirigiu
também o Banco do Comércio e Indústria. Como industrial, fundou a Cia.
Industrial Têxtil em Sabará, na localidade de Marzagão e a Indústria de Pneus
Brasil, no Rio de janeiro.
Nota: Esse Cel. Joaquim Martins da Costa foi o primeiro
proprietário da Fazenda da Vargem, que fica no município de Nova Era, no
caminho que vem para o Prata. Ele era o pai do Cel. José Batista Martins da
Costa, também grande líder político em Itabira e maior comerciante da região.
Este era o sogro de Raoul de Caux.
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Sobre esta publicação: Esta reportagem chegou às minhas mãos pela gentileza e atenção de Sebastião Leme de Caux. A ele devemos o resgate e a publicação deste fragmento de história de nossa região.
Abaixo uma foto de 1921, da Professora Maria Constança de Morais, na Escola de Sant' Anna do Alfié.
Abaixo uma foto de 1921, da Professora Maria Constança de Morais, na Escola de Sant' Anna do Alfié.
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