Timóteo em 1943 - Hoje Praça 29 de Abril
ORIGEM DO MUNICÍPIO DE TIMÓTEO.
Do livro Fragmentos
da História de São Domingos do Prata de Edelberto Augusto Gomes Lima
Todas as letras garrafais são por minha conta e não se deve
confundir, por se tratar de dois povoados distintos, embora situados na mesma
região leste do Estado, São José do Gramma com Santo Antônio do Gramma.
Sempre tive vontade de pesquisar a origem do município de
Timóteo, até porque parte da minha infância vivi com meus pais e irmãs em
Coronel Fabriciano e quase todo fim de semana atravessávamos de balsa o rio
Piracicaba sendo que do outro lado da margem já estávamos na FAZENDA DO ALEGRE,
município de Timóteo, de propriedade de minha tia Maria Nazareth Ferreira,
viúva de seu primo em primeiro grau, José Ferreira Maia, proprietário da
FAZENDA DO ALEGRE desde o início do século XX e pai do primeiro Prefeito de Coronel
Fabriciano, Dr. Rubem Maia.
De plano, vou começar dizendo que no distrito de São
Domingos do Prata denominado Dores de Babylonia (hoje município de Marliéria),
haviam, além do povoado sede do distrito, três outros de nomes TIMÓTEO OU SÃO
SEBASTIÃO DO ALEGRE, SÃO JOSÉ DO GRAMMA E JAGUARAÇÚ.
Consta na internet, no site da Associação de Município para
Desenvolvimento Integrado (AMDI) e também na Vale em Revista, ano de 1974, o
seguinte histórico:
.......Assim, em 1832, Francisco
de Paula e Silva, requeria uma sesmaria de terras no córrego de Timóteo que
deságua no Piracicaba, sobra da sesmaria de seu concunhado Felício Moreira da
Silva, onde construiu a sua FAZENDA DO ALEGRE, onde é atualmente a fazenda de
D. MARIA NAZARÉ LELLIS FERREIRA.
Por falecimento de Chico Santa Maria e sua esposa D.
Teodomira Correa de Assis coube a FAZENDA DO ALEGRE, por herança, aos seus
filhos Francisco, que ficou mais conhecido por Chico Santa Maria Moço, e a José
também mais conhecido por Juca do Alegre.
Esse último como residia fora, vendeu a sua parte para
Antônio Malaquias e ficaram como legítimos herdeiros seus filhos: Manuel,
Antônio, Sebastião, José, e Francisco Malaquias.
Esse último ficando tuberculoso e sabendo que o seu mal era
incurável, fez doação do terreno que herdara para o patrimônio de SÃO SEBASTIÃO DO ALEGRE DO TIMÓTEO,
onde começaram a ser levantadas as primeiras habitações, começando assim o
povoamento da cidade, hoje denominada TIMÓTEO, que a princípio fez parte do
território da BABILÔNIA (MARLIÉRIA), incorporando-se em seguida a SÃO JOSÉ DO GRAMA
(JAGUARAÇU).
Em 1922, sendo instalado o distrito de SÃO JOSÉ DO GRAMA, do
município de SÃO DOMINGOS DO PRATA, uma das providências tomadas pelo agente do
executivo do município, DR. EDELBERTO DE LELLIS FERREIRA, foi a criação de uma
escola primária municipal no povoado de TIMÓTEO, sob a direção de D. Maria
Quintão de Miranda, que exerceu o cargo por pouco tempo, sendo substituída por
D. Maria Chaves que alfabetizou várias gerações de timotenses.
Agora, vamos tentar seguir a cronologia dos fatos para no
final oferecermos o nosso parecer.
Primeiramente, é preciso ressaltar que o povoado de SÃO JOSÉ
DO GRAMMA não tornou- se distrito em 1922, com essa denominação.
Talvez pelas dificuldades de comunicação na época, fez-se
acreditar, em face da redação original do PROJETO DE LEI nº 119, de 1922
(tratava da divisão administrativa do Estado), que o distrito de SÃO JOSÉ DO
GRAMMA houvesse sido criado.
Este projeto dispunha:
―Art. 4º - Ficam criados os seguintes distritos:
Entre dezenas de distritos que se criava, em um dos itens do
artigo 4º, estatuía:
- De SÃO JOSÉ DO GRAMMA, com sede
na povoação do mesmo nome, no município de S. Domingos do Prata, com as
seguintes divisas:
Com o distrito de Babylonia,
começando pela barra do Ribeirão Antunes, no Rio Doce, ribeirão acima até a
barragem do Córrego Santa Cruz e daí subindo pelo espigão que fica à esquerda
do referido córrego, passa pelo alto de Santo Antônio, desce ao Ribeirão Onça
Grande, seguindo pelos altos do Tambú, Capim Gordura, até as divisas dos
herdeiros do Cap. Felício Moreira, com Manoel Carlos de Miranda e Emilio Olynto
da Silva e Alto de S. Lourenço.
Com o distrito de Sant‘Anna do
Alfié, pelo alto da Fazenda do Taquaral e seguindo à esquerda até o alto do
denominado Entre Serras, seguindo à direita pelo cume da Serra Pilatos,
seguindo pelo mesmo rumo até as divisas da fazenda Lourenço no município de
Antônio Dias, de propriedade de Joaquim Moreira da Silva, acompanhando as
divisas da mesma fazenda à de propriedade de José Maria de Assis, até o alto de
Santa Martha e Figueiredo.
Com os municípios de Antonio Dias
e Sant‘Anna de Ferros, pelo Rio Piracicaba até a sua foz no Rio Doce.
Com o município de Caratinga,
pelo Rio Doce acima, até a barra do Ribeirão Antunes, ponto inicial desta
divisa.
Em face da redação original desse
Projeto de Lei, submetido à apreciação da Assembleia Legislativa em 1923, os
DISTRITOS DE SÃO DOMINGOS DO PRATA passariam a ser:
São Domingos (a
sede do município).
Sant‘Anna do
Alfié.
Dionísio.
Vargem Alegre.
Babylonia.
Santa Isabel
e
SÃO JOSÉ DO
GRAMMA.
********************
Defesa do Agente Executivo de São Domingos do Prata e também
deputado Estadual, Dr. EDELBERTO DE LELLIS FERREIRA, fez perante a Assembleia
Legislativa para que o distrito a ser criado fosse em SÃO SEBASTIÃO DO ALEGRE:
― Sr. Presidente, pedi a palavra para passar às mãos de V. Excia, uma
representação de pessoas residentes na zona a que se dá o nome de TIMOTHEO,
pertencente ao distrito de Dores da Babylonia, do município de São Domingos do
Prata pedindo a elevação desse povoado à categoria de DISTRITO DE PAZ, com a
denominação de SÃO SEBASTIÃO DO ALEGRE e sede no lugar do mesmo nome.
A representação em que os habitantes do distrito pedem a sua elevação à
categoria de villa, vem instruída com diversos documentos, que bem demonstram a
importância do lugar e eu, como conhecedor do mesmo, posso adiantar à Casa que
ele dispõe, atualmente, de uma população superior à exigida por lei para a sua
elevação a distrito, possui patrimônio civil, cemitério completamente fechado e
escola estadual funcionando em prédio próprio, com água potável e respectiva
instalação sanitária.
Além disso, aquela região está situada em terreno de uma fertilidade
espantosa, tanto assim que, datando apenas de 5 anos, tem progredido
extraordinariamente.
Pelo lado de sua riqueza, o maior fator, entretanto, que vai concorrer
poderosamente para o progresso econômico e rápido daquele lugarejo está no fato
de ter a Estrada de Ferro Victoria a Minas levando até as proximidades daquele
povoado às pontes dos seus trilhos, na estação Raul Soares, cuja inauguração,
segundo consta, vai ser feita em 1º de agosto próximo. (O pronunciamento do Dr.
Edelberto data de julho de 1923).
Há outra razão, sr. Presidente, e de ordem moral, que levou os
habitantes daquele lugarejo a pedirem a sua emancipação política e
administrativa, é a de não se conformarem com o seu desmembramento do distrito
de BABYLONIA para fazerem parte do distrito de SÃO JOSÉ DO GRAMMA, cuja criação
se pede no projeto apresentado a esta Casa.
São estas, sr. Presidente, as ligeiras considerações que tenho a fazer
para justificar os desejos dos habitantes de TIMOTHEO, manifestadas na representação
que passo às mãos de V. Excia. para que a mesma tenha o destino regimental.
*****************
Portanto, além do
pedido para se criar o distrito de SÃO SEBASTIÃO DO ALEGRE, o povo do povoado
de TIMÓTEO não desejava que o mesmo fosse incorporado ao novo distrito de SÃO
JOSÉ DO GRAMMA.
Contudo, a meu juízo, existe uma pequena contradição no
pedido. Se criado fosse o distrito de SÃO SEBASTIÃO DO ALEGRE, automaticamente
ele seria desmembrado do distrito de BABYLONIA, eis que esse era distrito de
SÃO DOMINGOS DO PRATA. Assim, o novo distrito seria mais um dos distritos de
São Domingos do Prata, como já relacionado acima.
Depois de aprovado pela Assembleia o Projeto de Lei acima
referido, no qual o DISTRITO DE SÃO JOSÉ DO GRAMMA foi criado em seu artigo
18º, o texto foi para a Comissão de Redação da mesma Casa Legislativa.
Lá, sem qualquer
explicação (pelo menos não as encontrei nos anais da Assembleia), foi feita a
seguinte retificação:
―No art. 18, onde se diz – SÃO JOSÉ DO GRAMMA –
diga-se: - JAGUARASSÚ.‖
Assim o texto final que saiu da Comissão de
Redação estava assim redigido:
Art. 4º - Ficam criados os seguintes
distritos:
- de JAGUARASSÚ com sede na
povoação do mesmo nome, no município de São Domingos do Prata, com as seguintes
divisas: (....).
Em 07/09/1923, o Presidente do Estado de Minas Gerais, Raul
Soares Moura, sancionou a Lei nº 843 da mesma data, em que se converteu o
referido Projeto de Lei, na qual se estipulava:
―Art. 5º - ficam criados os
seguintes distritos:
XLVIII – de JAGUARAÇU, com sede
na povoação do mesmo nome, no município de São Domingos do Prata, com as
seguintes divisas:
Com o distrito de Marliéria
(Babylonia):
Começando no Portal, confluência
entre os Rios Piracicaba e Doce, seguem a linha divisória das águas destes rios
até alcançar a atual divisa entre Marliéria e Santana do Alfié, seguindo-se por
esta até o alto da Fazenda do Taquaral.
Com o distrito de Santana do
Alfié, pelo alto da Fazenda do Taquaral e, seguindo á esquerda até o alto
denominado Entre Serras, seguindo à direita pelo cume da Serra do Pilatos,
seguindo pelo mesmo rumo até as divisas da Fazenda-Lourenço, no Município de
Antônio Dias, de propriedade de herdeiros de Joaquim Moreira da Silva,
acompanhando as divisas da mesma Fazenda à de propriedade de José Maria de
Assis, até o alto de Santa Marta e Figueiredo.
Com os municípios de Antônio Dias
e Mesquita.
Pelo Rio Piracicaba até a sua foz
no Rio Doce, ponto de partida.
Em consequência, o Distrito de SÃO JOSÉ DO GRAMMA jamais foi
criado nesse período, como propalado por algumas entidades e nem o de S.
Sebastião do Alegre.
Originalmente, todas essas localidades citadas, incluindo o
distrito de BABYLONIA (já teve as denominações de Dores de Babylonia, Babylonia
e finalmente MARLIÉRIA), pertenciam à freguesia de SANT‘ANNA DO ALFIÉ,
desmembrada do município de Itabira para, desde 1890, tornar-se distrito de SÃO
DOMINGOS DO PRATA.
Ao se criar, pela lei 843, o DISTRITO DE JAGUARAÇÚ na sede
do povoado do mesmo nome, os povoados de SÃO SEBASTIÃO DO ALEGRE E SÃO JOSÉ DO
GRAMMA ficaram incorporados a esse novo distrito, vinculado a São Domingos do
Prata e assim permanecendo até 1938.
Finalmente, através do Decreto-Lei estadual de nº 148, de 17 de
dezembro de 1938, o povoado de SÃO JOSÉ DO GRAMMA recebeu o nome de TIMÓTEO e
aí sim foi elevado a distrito.
Ficando, a partir dessa data,
incorporado ao município de ANTÔNIO DIAS, desvinculando-se de São Domingos do
Prata e fazendo parte do novo distrito o povoado de SÃO SEBASTIÃO DO ALEGRE.
Em 1948, através da lei estadual
nº 336, de 27.12.1948, o distrito de TIMÓTEO é transferido para o município de
CORONEL FABRICIANO e, em 1962, emancipa-se política e administrativamente,
através da lei estadual nº 2.764, de 30 de dezembro do mesmo ano.
Por sua vez o povoado
de JAGUARAÇÚ também se transformou em município, através da Lei estadual nº
1039, de 12 de dezembro de 1953.
CONCLUSÕES.
Do texto acima, pode-se extrair a seguinte síntese:
-Que na FAZENDA DO ALEGRE situada no povoado de SÃO SEBASTIÃO
DO ALEGRE, teve origem o hoje município de TIMÓTEO.
-Que o povoado de SÃO SEBASTIÃO DO ALEGRE, assim como os
povoados de SÃO JOSÉ DO GRAMMA e JAGUARAÇÚ fizeram parte do território de
BABILÔNIA (hoje Marliéria).
-Que o povoado de SÃO SEBASTIÃO DO ALEGRE incorporou-se ao
povoado de SÃO JOSÉ DO GRAMMA, quando este em 1938 (e somente nesse ano) virou
distrito com o nome de TIMÓTEO, desmembrando-se do distrito de JAGUARAÇÚ, sendo
hoje em dia o município de TIMÓTEO.
-Que o povoado de nome JAGUARAÇÚ (teve diversas denominações
como Onça Grande, Jaguarassú, Jaguaraçu), após virar distrito, também se
transformou em município.
Esses são os frutos de minha pesquisa sobre o assunto, sendo
que a maioria dos dados foi extraída dos anais da Assembleia Legislativa de
Minas Gerais.
Edelberto Augusto Gomes
Lima – outubro de 2015.
NOTA
Quem se interessar em saber mais
dados sobre Dr. Edelberto de Lellis Ferreira poderá obtê-los através dos
livros de minha autoria: ―São Domingos do
Prata: Berço e Origem e Notas
Biográficas de Manoel Martins Gomes Lima, Janua Coeli de Lellis Ferreira e Dr.
Edelberto de Lellis Ferreira, ambos editados pela Editora Del Rey e encontrados na Biblioteca Estadual Luiz Bessa
em Belo Horizonte e na Casa de Cultura Chiquito de Morais em São Domingos do
Prata, além de Recontando a História de
São Domingos do Prata e Notas sobre
Alguns Prefeitos e Eleições em São Domingos do Prata de 1890 a 1947, ambos
em edições própria, também localizados na Casa de Cultura.
Veja os livros do Dr. Edelberto A Gomes Lima no link
http://dionisiano.blogspot.com.br/2016/08/edelberto-augusto-gomes-lima.html
Veja os livros do Dr. Edelberto A Gomes Lima no link
http://dionisiano.blogspot.com.br/2016/08/edelberto-augusto-gomes-lima.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário