domingo, 11 de setembro de 2016

DISCURSO DE POSSE NO IHGMG - Fábio Americano



Reunião solene de posse como associado efetivo em 12/03/2016 – 10:00 h.

AGRADECIMENTOS

Exmo. Dr. Wagner Colombarolli digníssimo presidente do IHGMG.
Exmo. Dr. Aluízio Alberto da Cruz Quintão, digníssimo secretário-geral.
Nas pessoas de Vossas Excelências cumprimento também os demais membros da mesa e todos os associados da Casa de João Pinheiro.

A todos o meu afetuoso bom dia; de intensa paz e harmonia. Autoridades, amigos e familiares.

Aproximadamente a 12 anos atrás eu recebia o primeiro convite para IHGMG. Aconteceu durante uma entrevista com o associado Pedro Maciel Vidigal que após ver aspectos dos meus trabalhos sobre a história de minha terra natal Dionísio, disse: “Vou leva-lo para o IHMG, você vai gostar muito de estar lá”. Estas palavras de Pedro Maciel Vidigal soaram como um reconhecimento e um incentivo para que eu continuasse aqueles trabalhos que estavam ainda bem no princípio; afinal, eram palavras de um dos mais competentes e destacados dentre os historiadores e genealogistas do Brasil. Vidigal viveu em Dionísio durante os anos 1935 a 36 paroquiando a região.

Esqueci-me completamente daquela conversa até que em 2015, o atual Presidente Dr. Wagner Colombarolli, reascendeu a chama honrando-me com o convite e me proporcionando esta oportunidade de estar assumindo a condição de Associado Efetivo e vivendo este momento tão especial com todos vocês.

Assumo com grande expectativa de aqui muito aprender e também colaborar para o engrandecimento da Casa de João Pinheiro. Estou chegando hoje, mas minha família já faz parte desta história com os Drs. Wilson Veado e Walter Veado, ilustres associados com brilhantes passagens e que aqui deixaram seus nomes gravados com feitos dignos desta casa centenária. Quero ser digno desta linhagem familiar, digno do convite recebido do Dr. Wagner Colombarolli e digno da importância do Instituto Histórico de MG. É uma grande honra estar aqui! Minha gratidão a todos que direta ou indiretamente me proporcionaram esta oportunidade. Uma menção especial a minha mãe Maria Martins Drumond, de quem herdei escritos sobre a história da família e de sua amada Dionísio, e outra menção à equipe que criou o Arquivo Histórico Nacional da Fundação Logosófica, por tudo que aprendi com eles.

Cumprindo o tradicional protocolo desta solene reunião inicialmente prestarei homenagens ao patrono da cadeira número 86, o notável advogado e político mineiro Dr. Daniel de Carvalho; em seguida ao Dr. Celso Cordeiro Machado, o antecessor ocupante da cadeira que ocupo a partir de hoje.  Cumpridas as homenagens formais, dissertarei sobre a importância do estudo da própria história para o cultivo do autoconhecimento e finalmente sobre a qualidade da documentação histórica.



HOMENAGEM AO PATRONO CADEIRA 86 Dr. DANIEL DE CARVALHO

Daniel Serapião de Carvalho nasceu em Itabira, então Itabira do Mato Dentro, em 9 de outubro de 1887 e faleceu no Rio de Janeiro, em 30 de março de 1966.  Filho do Dr. Antônio Serapião de Carvalho, e de D. Anna Utsch de Carvalho. Seu pai, Antonio Serapião de Carvalho, foi o primeiro juiz nomeado para a comarca do recém emancipado município de São Domingos do Prata em 1890 ao qual o então distrito Dionísio foi incorporado deixando de pertencer a Itabira. Daí o entendimento que parte a primeira infância de Daniel tenha sido vivida em SDP.

Quando estudante Daniel de Carvalho se dedicou ao jornalismo e ao magistério para custear os próprios estudos, pois mesmo sendo filho de um Juiz de Direito, pertencia a uma família muito numerosa. Trabalhou no jornal O Estado de Minas, que chegou a dirigir e foi redator da Tribuna do Norte e do Diário de Notícias.

Ingressou no serviço público, em 1907, por indicação do presidente João Pinheiro, indo ocupar um cargo de amanuense (copista), na Secretaria de Agricultura, onde por reconhecimento de sua competência recebeu várias promoções até alcançar a chefia do órgão após bacharelar-se em 1909, pela Faculdade de Direito de Belo Horizonte.

Em 1912 foi convidado e nomeado pelo então Ministro Francisco Salles para a Inspetoria no Ministério da Fazenda, no Rio de Janeiro. De volta a Minas Gerais, em 1914, trabalhou no Gabinete do Secretário Raul Soares. Por ocasião do litígio territorial entre Minas Gerais e Espírito Santo, foi nomeado interventor civil na região contestada. Em 1916, representou Minas junto ao governo de São Paulo na questão de limites entre os dois estados.

Em 1920 foi convidado por Raul Soares, então ministro da Marinha (1919-1920), para a assessoria daquele ministério.

Elegeu-se Deputado Estadual, em 1922, porém, renunciou a seu mandato para assumir, ainda neste mesmo ano, a Secretaria de Agricultura, Viação e Obras Públicas. Durante sua gestão, realizou obras para a navegação no rio São Francisco, construiu em Viçosa a Escola Superior de Agricultura, iniciou a construção das primeiras estradas de rodagens, e das primeiras pontes de concreto do Estado de MG, reaparelhou a Rede Mineira de Viação e produziu o Plano da Nova Divisão Administrativa do Estado.

Foi eleito Deputado Federal para o período de 1927 / 29 e distinguiu-se nos debates parlamentares sobre a política financeira do governo federal. Foi reeleito Deputado Federal em 1930, participando intensamente da Revolução neste mesmo ano e tornando-se um dos nomes mais conhecidos e respeitados no meio político do Estado.  Em 1933 foi eleito deputado por Minas Gerais à Assembleia Nacional Constituinte.

Foi consultor jurídico da Comissão Preparatória do Plano Siderúrgico Nacional, que antecedeu a instalação da usina de Volta Redonda em janeiro de 1941, e em seguida, foi designado diretor-secretário da Companhia Siderúrgica Nacional.

Foi eleito para a Assembleia Constituinte de 1946 e nesse mesmo ano assumiu a presidência do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura, órgão vinculado à Organização das Nações Unidas e Unesco. Na Constituinte, trabalhou na Comissão de Finanças e principalmente no capítulo da Constituição relativo ao orçamento. Também defendeu a mudança da capital da República para o Brasil Central.

No governo do Marechal Dutra assumiu o Ministério da Agricultura e marcou a sua gestão com importantes realizações como a promoção da moto mecanização da lavoura, a difusão pelo país de pequenos estabelecimentos para contato direto com o agricultor, o fomento à cultura do trigo, fixação e regulamentação da rede de estabelecimentos de ensino agrícola no Brasil, criação do primeiro centro de treinamento para mecânicos agrícolas e organizou a Companhia Hidroelétrica do São Francisco, criando o Parque Nacional de Paulo Afonso, dentre outras.

Voltou à Câmara dos Deputados, para cumprir mais dois mandatos parlamentares, em 1950.
Despediu-se da vida pública em 1956, e deixou aflorar a figura do jurista e professor na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro e na Faculdade Nacional de Ciências Econômicas.

Foi presidente da Companhia Construtora Meridional S.A., do Banco Industrial de Minas Gerais S.A. e do Instituto de Economia da Associação Comercial do Rio de Janeiro. Consultor jurídico do Conselho da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); membro do Instituto dos Advogados Brasileiros, da Sociedade de Geografia, do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, da Sociedade Mineira de Agricultura. Foi grande acionista da Companhia Nacional de Gás Esso.

Foi casado com Alice Mibielli de Carvalho e tiveram quatro filhos: Fernando, Alberto, Paulo, Pedro Afonso, todos Mibielli de Carvalho.

Entre as principais obras que publicou, destacam-se:
Notícia histórica sobre o algodão em Minas Gerais - 1916 - BH
O convênio entre Minas e São Paulo – 1917 - BH;           
Traços de uma grande vida: Teófilo Otoni, campeão da liberdade -1934 – RJ
Discursos e Conferências – 1941 - 1947 – 1948 - 1949 – RJ
A missão da Professora – 1942 – RJ
Estudos de Economia e Finanças – 1943 – RJ
Atividades no Ministério da Agricultura de 1946-1950 – 1951
Estudos e Depoimentos - RJ
Formação histórica de Minas Gerais -1956
Capítulos de memórias - 1957
Memórias de outros tempos - 1961
Os caminhos antigos de Minas Gerais. 

Fonte:     Centro de Pesquisa e Documentação da História da Fundação Getúlio Vargas
Trabalho assinado por Silvia Pantoja e arquivos do IHGMG.



Dr. CELSO CORDEIRO MACHADO - O ANTECESSOR DA CADEIRA 86 DO IHGMG

Celso Cordeiro Machado – foi advogado, membro do Ministério Público, professor, político e escritor, nasceu em Paracatu, Minas Gerais, em 9 de agosto de 1921. Teve como pais José Machado Barbosa e Aurora Cordeiro Machado.

Estudou na Faculdade de Direito da UFMG, de 1941 a 1945, onde também cursou o Doutorado nos anos de 1951 a 1952.

Iniciou sua carreira como advogado no Banco Mercantil do Brasil, em Belo Horizonte e posteriormente abriu seu escritório de advocacia.

Através de concurso público ingressou no magistério superior em 1950, como professor assistente da cadeira de Legislação Tributária da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Minas Gerais – UMG.

Em 1966, após aprovação em concurso público, foi nomeado professor de Direito Tributário da Faculdade de Direito da UFMG.

Em 1970 passou a lecionar Direito Financeiro e Ciência das Finanças na Faculdade de Direito da Universidade Católica de Minas Gerais – UCMG.

Publicou diversos trabalhos de cunho jurídico em revistas especializadas, além das obras: “Crédito Tributário”, “Tratado de Direito Tributário Brasileiro”, e “Limites e Conflitos de Competência Tributária no Sistema Brasileiro”.

Foi membro da Academia Mineira de Direito e da Academia Mineira de Letras Jurídicas.
Em 1988 foi convidado pelo presidente do Instituto dos Advogados de Minas Gerais – IAMG, Décio de Carvalho Mitre, para integrar a comissão de juristas constituída com a finalidade de elaborar um estudo sobre o Projeto da Constituição Brasileira de 1988.

O trabalho da equipe resultou no livro “Pronunciamento sobre o Projeto de Constituição”, que foi encaminhado à Comissão de Sistematização da Assembleia Nacional Constituinte. Celso Cordeiro Machado teve atuação destacada na comissão, especialmente nas matérias relativas à Tributação e Orçamento.

De 1998 a 2001, foi presidente do Instituto dos Advogados de MG – IAMG, promovendo a melhoria da infraestrutura material e operacional do Instituto. Ao final de seu mandato, instalou uma Seção do instituto no município de Juiz de Fora.

Homem sereno, paciente e otimista, exemplo de dedicação ao trabalho e perseverança de ideais, dotado de vasta cultura jurídica e humanística, Celso Cordeiro Machado destacou-se como uma das mais eminentes figuras do cenário jurídico nacional.

Fonte: Com informações da Revista do Instituto dos Advogados de MG
Edição comemorativa dos 90 anos da instituição

  
MEU ENCONTRO COM A HISTÓRIA
A importância da própria história para o conhecimento de si mesmo.

O cultivo da história sempre foi uma vocação natural. Era minha matéria predileta já nos tempos da escola primária. Mais tarde os temas históricos eram os preferidos para as leituras e filmes.

Com o passar dos anos, fui entendendo que não era somente vocação, existiam outros motivos pelos quais eu buscava tanto os fatos históricos. Tudo que fosse relacionado a história me interessava.  As minhas inquietudes frente aos mistérios da vida ficavam cada vez mais agudas e como muitos de meus ancestrais eu precisava saber mais sobre o que sou, de onde vim e para onde vou? Questões que persistem para os homens a milhares de anos.

A milenar inscrição do Templo de Delfos desde muito cedo se manifestava em mim como um anelo: “Conhece-te a ti mesmo! ” A busca que começou de forma desordenada com leituras de muitas correntes de pensamentos e espiritualistas ficou organizada e bem orientada quando encontrei uma escola, um método, ensinamentos e um ambiente adequado a este tipo de estudos. Em 1987 incorporei este desafio na minha vida iniciando um caminhar nesta senda que já dura quase trinta anos.

Sempre existiram em mim necessidades de conhecer a razão de ser das coisas, a formação estrutural, a organização, a lógica de funcionamento. Estas necessidades tornaram-se estímulos para procurar entender a essência de meu ser: quais forças me movem, porque que sou como sou, quais as origens de meu pensar e sentir, porque gosto ou não gosto de algo, porque das oscilações temperamentais, o que tenho de bom e pode ser aprimorado, o que tenho em minha conduta que precisa evoluir; etc., etc.

Nos estudos e experimentações necessários ao avanço do conhecer a mim mesmo, constatei que o conhecimento da minha própria história é fundamental, descobri que parte importante dos segredos do conhecimento do meu mundo interno, do que penso e sinto, das reações, emoções, sensações e impressões, estavam dispersos e encobertos em minha própria história. Descobri que nestas nuvens de fatos perdidas nos tempos passados eu deveria buscar e tornar consciente todas as influencias que recebi de tudo e de todas pessoas com as quais me relacionei desde o dia em que nasci nesta etapa de vida.

Como era minha família? Quais as características psicológicas das pessoas com as quais convivi? Quais heranças de conhecimentos recebi de meus ancestrais? Avós, pais, tios, irmãos? E dos meus professores, amigos, colegas de estudo? E as influências do ambiente de trabalho... E do meio ambiente social? As inculcações de correntes políticas e religiosas... A influência da mídia, dos modismos, da massificação de conceitos e preconceitos, e etc.

Enfim, a busca para identificar as influencias, ensinamentos e principalmente os exemplos que recebi ao longo da vida e que foram determinantes na definição das características de minha psicologia, de meu modo de ser, de meu caráter, de meus hábitos?

Quando eu nasci, minha mente era uma “terra virgem e fértil”. Quem semeou o que, nesta mente vazia e fértil para o aprendizado? Quando semeou, como, onde, porque? Foram boas e puras as sementes dos conhecimentos que eu recebi? Quais sementes não foram boas para a minha vida? Perguntas que somente podem ser respondidas na investigação da minha própria história; respostas que para serem alcançadas necessitam ser antecedidas pela formação de uma consistente base conceitual sobre a concepção biopsicoespiritual do homem.

Aqueles que buscam o conhecimento de si mesmo, sabem que a investigação da herança cultural desta etapa de vida, é somente uma parte do “conhece-te a ti mesmo”. Que existem outros incontáveis aspectos a investigar, em especial a própria herança espiritual.

Nestes estudos que realizei ao longo de anos sobre a minha própria história e a história do Processo da Criação, fui alcançando algumas compreensões que considero muito interessantes:

·         Que a história é a ciência que conserva todo conhecimento abarcado pelo homem e também a base para o desenvolvimento da consciência individual e coletiva.

·         Que toda documentação dos conhecimentos que possibilitam a evolução do homem são documentos históricos.

·         Que historiar é um exercício de recordar.

·         Que a recordação contém a essência do eterno e não existem recordações sem as histórias.
Como diz o dito popular “Recordar é viver”, é reviver, viver novamente.
Recordar é dar ao coração. Recordar é dar cor e ação ao passado.
Recordar é dar cor e vida aos sentimentos, é viver novamente em espírito, é eternizar.

·         Que sem a história não existe consciência e sem a recordação não existe eternidade.

·         Que é o exercício de recordar a história que nos possibilita unir as três dimensões do tempo eterno: o passado, o presente e o futuro.

·         Que a história traz o passado ao presente e levará o presente ao futuro.

A história se transformou em um precioso e prazeroso hobby. No início os estudos objetivavam conhecer aspectos da história de minha família, conhecer a minha herança cultural familiar; depois as pesquisas foram ampliadas pois me senti atraído a viajar no tempo para melhor entendimento contextual de situações e atitudes. Queria compreender as partes do passado que vivem em meu presente integradas ao meu ser interno, e nestas buscas encontrei um tesouro: os escritos de minha mãe contando a história da família e de nossa terra natal Dionísio.

Estes documentos históricos produzidos por minha mãe me estimularam a ampliar as pesquisas o que me proporcionou também a expansão da vibração, da energia e da alegria no realizar este trabalho que me criou oportunidades de reencontro com alguns velhos conhecidos, também a descoberta de milhares de fotos antigas e alguns documentos raros em fundos de baús e gavetas. Vivi incontáveis horas de conversas com os velhos conhecidos da família, ou com desconhecidos velhos e encontrei novos conhecidos vivendo uma diversidade de contatos muito enriquecedora sob todos os aspectos.

Pude vivenciar parcialmente o tempo em que viveram meus pais, o tempo em que compadres e comadres ao final do dia se assentavam nos bancos frente às casas para uma boa conversa. Senti um gostinho especial daquele acolhimento afetuoso que existia entre as famílias amigas em um passado não muito distante. Fui sempre recebido com o tradicional café acompanhado de tantas delicias caseiras: pães de queijos, queijos da roça, broas de fubá, bolos e biscoitos de polvilho que sempre surgiam durante as conversas que muitas vezes chegaram quase ao amanhecer de um novo dia.

Mas existem muitos detalhes que agora não cabem neste relato.
As pesquisas foram atividades extraordinariamente sensíveis que tocaram profundamente meu espírito; atividades absolutamente inesquecíveis nas quais eu fui encontrando e reunindo fragmentos de minha vida herdados do passado.

Como resultado destas atividades foram produzidos vários trabalhos, dentre os quais uma coletânea historiográfica sobre a minha cidade natal, que já foi publicada e mais dois volumes que já estão preparados para a edição. Criei também um site que armazena histórias de Dionísio e seus pioneiros; um site de genealogia também dedicado as famílias dos Dionisianos. Produzi alguns pequenos vídeos que também estão publicados. Passei a participar de grupos de relacionamentos na Internet que além de integrar Dionisianos e Acesitanos em seus respectivos grupos tem o objetivo de resgatar histórias e documentos.

Estes grupos na Internet objetivam também o cultivo da convivência entre amigos de todos os tempos e integram hoje mais de duas mil pessoas. Neles são trocadas notícias, histórias, fotografias e até documentos. É um recurso que elimina as distancias físicas e descomplica as comunicações.

NOVAS POSSIBILIDADES PARA A DOCUMENTAÇÃO HISTÓRICA

Meus primeiros esforços de organizar documentos históricos de forma digital foram realizados em 1995, na ocasião da criação do Arquivo Histórico Nacional da Fundação Logosófica do Brasil, mas os recursos dos computadores ainda eram muito limitados em especial na capacidade de tratar e armazenar imagens. A digitalização era muito lenta e os dispositivos não comportavam grandes volumes de dados.

Naqueles anos não existiam tantas facilidades e recursos como hoje, mas levando comigo um computador e um digitalizador, pude recolher milhares de fotos e centenas de documentos, o que sem estes recursos não seria possível. Tomar tantas fotos emprestadas para copiar ou esperar que as pessoas me enviassem copias pelo correio não era realizável. Todos são apegados aos seus documentos antigos, em especial com as fotografias. Nesta reuni mais de 2500 fotos de Dionísio e sua gente.

De 1998 aos dias atuais os recursos evoluíram extraordinariamente e praticamente não temos mais as limitações de volume de armazenamento de imagens do passado recente. Podemos, além de armazenar grandes volumes de informações, realizar buscas de documentos de forma quase instantânea em nossos computadores e mesmo à distância com extrema facilidade e rapidez utilizando a internet onde encontramos ilimitados tipos e números de sites. Estes recursos permitem ampliar a base de amostragem estatística das buscas, o que é de suma importância para gerar resultados mais qualificados, mais confiáveis e próximos da verdade objetivada.

Em 1998 eu carregava duas maletas, uma com computador e outra com o scanner; hoje posso usar somente um telefone celular com os recursos necessários à documentação: fotografia, gravação de som e imagem, e aplicativo de digitalização.

Hoje cada um de nós registra a própria história com centenas, milhares de fotografias e vídeos. Os equipamentos fotográficos e de filmagem cada vez mais populares, possibilitam os registros dos documentos com mais qualidade e agilidade. O estado, as grandes empresas e as redes globalizadas reúnem cada vez mais informações sobre nossas vidas; os sistemas integram e cruzam informações com velocidades jamais pensadas a alguns anos atrás. A história já está sendo registrada de outra forma e o volume da documentação da vida nos dias atuais é inimaginável, é incomensurável.

Como devemos nos adequar a toda esta documentação gerada pelas tecnologias atuais?
Que cuidados devemos ter no tratamento desta imensa produção de documentos?
O que caracteriza um documento como histórico? Como qualificar um documento histórico?
Como assegurar a verdade e a confiabilidade da documentação histórica?

São questões sobre as quais precisamos pensar, sendo que algumas são novas como as que referem aos grandes volumes de documentos gerados, e outras nasceram com a própria história e existirão sempre. Eternamente existirão os questionamentos sobre a qualidade das versões da história e a necessidade de garantir a confiabilidade e verdade à mesma.

Na ata da reunião fundacional do IHGMG em 15 de agosto de 1907, Dr. Diogo Vasconcelos, o orador oficial daquele memorável dia manifestou sua preocupação com a qualidade e confiabilidade da documentação da história.

Disse ele que a história não é apenas uma ciência das humanidades, mas sim “a mais humana dentre elas. Ela (a história) deve ser fiel, verdadeira e severa e tem que ser escrita como ela realmente é....” e complementou ainda que além de fiel e verdadeira a história tem de ser escrita “...com um vasto levantamento documental, que carregue a verdade”.

Diogo Vasconcelos, a 108 anos atrás compreendia com clareza três aspectos fundamentais para a qualificação dos documentos históricos: a influência do relator ou historiador no fato relatado, a fidelidade, a verdade do documento e o volume de documentos para conferir segurança ao fato ou relato. (Visões humana, de qualidade e de amostragem estatística)

González Pecotche nos adverte:
“É sabido que a História para ser verídica, deve estar legitimada por testemunhos indiscutíveis; por verdades que concordem com nossa realidade interna, que é a que deve alentar o juízo dos homens. Daí (da realidade interna) deve surgir a aceitação ou a não aceitação das passagens históricas. Os fatos históricos somente podem ser considerados incontestáveis, quando estão sustentados por realidades que livrem a posteridade de toda suspeita acerca da fidelidade de sua origem”.

Investigando um documento histórico quanto à sua forma física de apresentação na maioria dos casos através de métodos científicos poderemos atestar a sua originalidade, e sua verdade se torna inquestionável. Isto é feito para todos tipos de documentos históricos: monumentos e edificações, fosseis, fotos, pinturas e desenhos, utensílios, ferramentas e armas antigas, vestuário e, adornos, selos, medalhas e moedas, pergaminhos, cartas, atas, registros cartoriais, decretos, livros, etc.

Mas, quando investigamos um documento histórico quanto ao conteúdo, grafado com símbolos ou palavras escritas ou mais recentemente com sons e imagens, encontramos a influência do ser humano na história, encontramos a mais humana dentre as ciências humanas. O conteúdo de qualquer documento registra sempre o pensar e sentir de seu autor com suas infinitas variações que tem origem nos diferentes níveis de conhecimentos, tipos psicológicos, modalidades e caráter.

Quando o historiador produziu seu documento estava sob quais influencias e quais interesses?
Atendia a interesses de correntes religiosas, ou ideais políticos, ou econômicos. Estava envolvido com fortes sentimentos ou paixões.... Ou, mesmo sofrendo pressões, ameaças..., ou estava sendo remunerado para contar uma história encomendada? Cada um relata o que naquele momento de sua vida “acredita” ser a sua verdade, e que, circunstancialmente esta verdade pode ser alterada pelas necessidades e interesses pessoais e contextuais.

A Logosofia assim define a autoridade do historiador:
“A autoridade do historiador se constitui, ..., mediante a revivencia objetiva, subjetiva e concreta do fato, ou seja, fazendo os demais conhecerem o fato por meio da razão e através das consequências do mesmo, e mais ainda, fazendo possível reviver a imagem da história com pessoas, ou com elementos ou coisas. É este o selo da legitimidade do documento”.

“A autoridade do historiador surge da evidencia com que demonstra um fato histórico e capacita ao que escuta para que possa contemplar uma imagem real, com as suas próprias condições ou meios”.

Os relatos históricos carregam as realidades individuais que podem conter fragmentos de verdades, ou meias verdades ou mesmo mentiras frente a verdade absoluta da Mente Universal, da Inteligência Suprema do Criador e as suas leis que regem a Criação. A verdade absoluta sobre qualquer obra criada está na mente do Criador. O que concebe e realiza detém a verdade sobre sua criação.

A documentação da história deve ser verdadeira e volumosa, registrando com fidelidade o fato para permitir que o investigador pesquise em múltiplos documentos as várias posições mentais e sensíveis de historiadores diferentes. Analisando uma amostragem com diversas visões e percepções se poderá extrair os fragmentos de verdade de cada documento e uni-los validando seus conteúdos para alcançar e consolidar uma proximidade maior com a verdade.

A principal meta é fazer com que documentação da história vá se afastando do “Era uma vez...” e do empirismo e vá evoluindo no atendimento às características que asseguram a confiabilidade como resultado da qualificação atestada por métodos científicos.

Cento e oito anos após o chamamento de Vasconcelos na ocasião da fundação deste IHGMG, temos as possibilidades e potencialidades disponibilizadas pelas tecnologias em todos os ramos das ciências e este desafio de ter documentos que carreguem a verdade pode ser resolvido. Na atualidade a história já está sendo contada de forma diferente, de forma a não deixar para o futuro nenhuma dúvida de como vivemos hoje; o que fazemos, porque, para que, quem somos, etc.

Com as tecnologias atuais cada um de nós já está registrando a própria história e produzindo um enorme volume de fotografias e filmes. De forma similar isto também está sendo feito pelas empresas, comunidades, cidades, estado, etc.  Os recursos do gerenciamento eletrônico de documentos permitem manusear este volumoso acervo documental, realizando a validação, a classificação, seleção, preservação e disponibilização a interessados em todo mundo. Já podemos ter uma documentação volumosa, inquestionavelmente verdadeira e confiável como já queria Diogo Vasconcelos.

Agora devemos nos preparar e nos adequar aos novos recursos já disponíveis e já temos exemplos de destacadas e consagradas instituições guardiãs de parte da história da humanidade que já disponibilizam seus acervos para nossas pesquisas na Internet. Podemos visitar virtualmente e pesquisar os acervos de centenas de museus, bibliotecas, órgãos de imprensa, universidades, institutos, governo, etc.

Mas esta é só uma das facilidades dos novos tempos. Brevemente cada um de nós estará usando a grande rede globalizada para fazer envios e armazenamentos de documentos para os arquivos de instituições que preservam a história. Qualquer cidadão conectado poderá depositar seus documentos e histórias para preserva-los.

Estamos iniciando uma nova era na história da história, que já não mais admite duvidas, tergiversações e mentiras. Temos que direcionar esforços para a evolução da qualidade da documentação histórica objetivando a sua mais importante característica de qualidade, a confiabilidade. Na história já não cabem mais figuras lendárias, mitológicas, milagrosas; muito menos cabem os falsos ídolos, os falsos lideres, ou os super-heróis fantasiosos e mentirosos.

Esta é a nossa atual responsabilidade frente ao futuro, responsabilidade que Diogo Vasconcelos, considerado por muitos como o Heródoto mineiro, já aspirava desde a fundação do IHGMG em 1907.

A qualidade da documentação da história será determinante para evitar que falsos líderes e falsos ídolos sejam transformados em mitos como tem acontecido ao longo de séculos. Que cada homem possa ser avaliado no futuro pelas obras de bem que produziu para sua geração e para as gerações futuras.

Nenhuma mentira resiste à ação do tempo.
O tempo é o maior amigo da verdade e seu principal aliado.

 “A humanidade não pode viver de lendas.
A história não pode ser uma construção apócrifa”.

Da Logosofia

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