|
Reunião solene de posse como associado
efetivo em 12/03/2016 – 10:00 h.
Exmo. Dr. Wagner Colombarolli digníssimo presidente do IHGMG.
Exmo. Dr. Aluízio Alberto da Cruz Quintão, digníssimo secretário-geral.
Nas pessoas de Vossas Excelências cumprimento também os demais membros da
mesa e todos os associados da Casa de João Pinheiro.
A todos o meu afetuoso bom dia; de intensa paz e harmonia. Autoridades,
amigos e familiares.
Aproximadamente a 12 anos atrás eu recebia o primeiro convite para IHGMG.
Aconteceu durante uma entrevista com o associado Pedro Maciel Vidigal que após
ver aspectos dos meus trabalhos sobre a história de minha terra natal Dionísio,
disse: “Vou leva-lo para o IHMG, você vai gostar muito de estar lá”. Estas
palavras de Pedro Maciel Vidigal soaram como um reconhecimento e um incentivo
para que eu continuasse aqueles trabalhos que estavam ainda bem no princípio;
afinal, eram palavras de um dos mais competentes e destacados dentre os historiadores
e genealogistas do Brasil. Vidigal viveu em Dionísio durante os anos 1935 a 36 paroquiando
a região.
Esqueci-me completamente daquela conversa até que em 2015, o atual
Presidente Dr. Wagner Colombarolli, reascendeu a chama honrando-me com o convite
e me proporcionando esta oportunidade de estar assumindo a condição de
Associado Efetivo e vivendo este momento tão especial com todos vocês.
Assumo com grande expectativa de aqui muito aprender e também colaborar para
o engrandecimento da Casa de João Pinheiro. Estou chegando hoje, mas minha
família já faz parte desta história com os Drs. Wilson Veado e Walter Veado,
ilustres associados com brilhantes passagens e que aqui deixaram seus nomes
gravados com feitos dignos desta casa centenária. Quero ser digno desta
linhagem familiar, digno do convite recebido do Dr. Wagner Colombarolli e digno
da importância do Instituto Histórico de MG. É uma grande honra estar aqui! Minha
gratidão a todos que direta ou indiretamente me proporcionaram esta oportunidade.
Uma menção especial a minha mãe Maria Martins Drumond, de quem herdei escritos
sobre a história da família e de sua amada Dionísio, e outra menção à equipe
que criou o Arquivo Histórico Nacional da Fundação Logosófica, por tudo que
aprendi com eles.
Cumprindo o tradicional protocolo desta solene reunião inicialmente
prestarei homenagens ao patrono da cadeira número 86, o notável advogado e
político mineiro Dr. Daniel de Carvalho; em seguida ao Dr. Celso Cordeiro
Machado, o antecessor ocupante da cadeira que ocupo a partir de hoje. Cumpridas as homenagens formais, dissertarei
sobre a importância do estudo da própria história para o cultivo do
autoconhecimento e finalmente sobre a qualidade da documentação histórica.
HOMENAGEM AO PATRONO CADEIRA 86 Dr. DANIEL DE CARVALHO
Daniel Serapião de Carvalho nasceu em Itabira, então Itabira do Mato
Dentro, em 9 de outubro de 1887 e faleceu no Rio de Janeiro, em 30 de março de
1966. Filho do Dr. Antônio Serapião de
Carvalho, e de D. Anna Utsch de Carvalho. Seu pai, Antonio Serapião de
Carvalho, foi o primeiro juiz nomeado para a comarca do recém emancipado
município de São Domingos do Prata em 1890 ao qual o então distrito Dionísio
foi incorporado deixando de pertencer a Itabira. Daí o entendimento que parte a
primeira infância de Daniel tenha sido vivida em SDP.
Quando estudante Daniel de Carvalho se dedicou ao jornalismo e ao
magistério para custear os próprios estudos, pois mesmo sendo filho de um Juiz
de Direito, pertencia a uma família muito numerosa. Trabalhou no jornal O
Estado de Minas, que chegou a dirigir e foi redator da Tribuna do Norte e do
Diário de Notícias.
Ingressou no serviço público, em 1907, por indicação do presidente João
Pinheiro, indo ocupar um cargo de amanuense (copista), na Secretaria de
Agricultura, onde por reconhecimento de sua competência recebeu várias
promoções até alcançar a chefia do órgão após bacharelar-se em 1909, pela
Faculdade de Direito de Belo Horizonte.
Em 1912 foi convidado e nomeado pelo então Ministro Francisco Salles para
a Inspetoria no Ministério da Fazenda, no Rio de Janeiro. De volta a Minas
Gerais, em 1914, trabalhou no Gabinete do Secretário Raul Soares. Por ocasião
do litígio territorial entre Minas Gerais e Espírito Santo, foi nomeado
interventor civil na região contestada. Em 1916, representou Minas junto ao
governo de São Paulo na questão de limites entre os dois estados.
Em 1920 foi convidado por Raul Soares, então ministro da Marinha
(1919-1920), para a assessoria daquele ministério.
Elegeu-se Deputado Estadual, em 1922, porém, renunciou a seu mandato para
assumir, ainda neste mesmo ano, a Secretaria de Agricultura, Viação e Obras
Públicas. Durante sua gestão, realizou obras para a navegação no rio São
Francisco, construiu em Viçosa a Escola Superior de Agricultura, iniciou a
construção das primeiras estradas de rodagens, e das primeiras pontes de
concreto do Estado de MG, reaparelhou a Rede Mineira de Viação e produziu o
Plano da Nova Divisão Administrativa do Estado.
Foi eleito Deputado Federal para o período de 1927 / 29 e distinguiu-se
nos debates parlamentares sobre a política financeira do governo federal. Foi
reeleito Deputado Federal em 1930, participando intensamente da Revolução neste
mesmo ano e tornando-se um dos nomes mais conhecidos e respeitados no meio
político do Estado. Em 1933 foi eleito
deputado por Minas Gerais à Assembleia Nacional Constituinte.
Foi consultor jurídico da Comissão Preparatória do Plano Siderúrgico
Nacional, que antecedeu a instalação da usina de Volta Redonda em janeiro de
1941, e em seguida, foi designado diretor-secretário da Companhia Siderúrgica
Nacional.
Foi eleito para a Assembleia Constituinte de 1946 e nesse mesmo ano
assumiu a presidência do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura, órgão
vinculado à Organização das Nações Unidas e Unesco. Na Constituinte, trabalhou na
Comissão de Finanças e principalmente no capítulo da Constituição relativo ao
orçamento. Também defendeu a mudança da capital da República para o Brasil
Central.
No governo do Marechal Dutra assumiu o Ministério da Agricultura e marcou
a sua gestão com importantes realizações como a promoção da moto mecanização da
lavoura, a difusão pelo país de pequenos estabelecimentos para contato direto
com o agricultor, o fomento à cultura do trigo, fixação e regulamentação da
rede de estabelecimentos de ensino agrícola no Brasil, criação do primeiro
centro de treinamento para mecânicos agrícolas e organizou a Companhia
Hidroelétrica do São Francisco, criando o Parque Nacional de Paulo Afonso, dentre
outras.
Voltou à Câmara dos Deputados, para cumprir mais dois mandatos
parlamentares, em 1950.
Despediu-se da vida pública em 1956, e deixou aflorar a figura do jurista
e professor na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro e na Faculdade
Nacional de Ciências Econômicas.
Foi presidente da Companhia Construtora Meridional S.A., do Banco
Industrial de Minas Gerais S.A. e do Instituto de Economia da Associação
Comercial do Rio de Janeiro. Consultor jurídico do Conselho da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB); membro do Instituto dos Advogados Brasileiros, da
Sociedade de Geografia, do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, da
Sociedade Mineira de Agricultura. Foi grande acionista da Companhia Nacional de
Gás Esso.
Foi casado com Alice Mibielli de Carvalho e tiveram quatro filhos:
Fernando, Alberto, Paulo, Pedro Afonso, todos Mibielli de Carvalho.
Entre as principais obras que publicou, destacam-se:
Notícia histórica sobre
o algodão em Minas Gerais - 1916 - BH
O convênio entre
Minas e São Paulo – 1917 - BH;
Traços de uma grande
vida: Teófilo Otoni, campeão da liberdade -1934 – RJ
Discursos e
Conferências – 1941 - 1947 – 1948 - 1949 – RJ
A missão da
Professora – 1942 – RJ
Estudos de Economia
e Finanças – 1943 – RJ
Atividades no
Ministério da Agricultura de 1946-1950 – 1951
Estudos e
Depoimentos - RJ
Formação histórica
de Minas Gerais -1956
Capítulos de
memórias - 1957
Memórias de outros
tempos - 1961
Os caminhos antigos
de Minas Gerais.
Fonte: Centro de Pesquisa e Documentação da
História da Fundação Getúlio Vargas
Trabalho
assinado por Silvia Pantoja e arquivos do IHGMG.
Dr. CELSO CORDEIRO MACHADO - O ANTECESSOR DA CADEIRA 86 DO
IHGMG
Celso
Cordeiro Machado – foi advogado, membro do Ministério Público, professor,
político e escritor, nasceu em Paracatu, Minas Gerais, em 9 de agosto de 1921.
Teve como pais José Machado Barbosa e Aurora Cordeiro Machado.
Estudou
na Faculdade de Direito da UFMG, de 1941 a 1945, onde também cursou o Doutorado
nos anos de 1951 a 1952.
Iniciou
sua carreira como advogado no Banco Mercantil do Brasil, em Belo Horizonte e
posteriormente abriu seu escritório de advocacia.
Através
de concurso público ingressou no magistério superior em 1950, como professor
assistente da cadeira de Legislação Tributária da Faculdade de Ciências
Econômicas da Universidade de Minas Gerais – UMG.
Em
1966, após aprovação em concurso público, foi nomeado professor de Direito
Tributário da Faculdade de Direito da UFMG.
Em
1970 passou a lecionar Direito Financeiro e Ciência das Finanças na Faculdade
de Direito da Universidade Católica de Minas Gerais – UCMG.
Publicou
diversos trabalhos de cunho jurídico em revistas especializadas, além das
obras: “Crédito Tributário”, “Tratado de Direito Tributário Brasileiro”, e
“Limites e Conflitos de Competência Tributária no Sistema Brasileiro”.
Foi
membro da Academia Mineira de Direito e da Academia Mineira de Letras
Jurídicas.
Em 1988
foi convidado pelo presidente do Instituto dos Advogados de Minas Gerais –
IAMG, Décio de Carvalho Mitre, para integrar a comissão de juristas constituída
com a finalidade de elaborar um estudo sobre o Projeto da Constituição
Brasileira de 1988.
O
trabalho da equipe resultou no livro “Pronunciamento sobre o Projeto de
Constituição”, que foi encaminhado à Comissão de Sistematização da Assembleia
Nacional Constituinte. Celso Cordeiro Machado teve atuação destacada na
comissão, especialmente nas matérias relativas à Tributação e Orçamento.
De
1998 a 2001, foi presidente do Instituto dos Advogados de MG – IAMG, promovendo
a melhoria da infraestrutura material e operacional do Instituto. Ao final de
seu mandato, instalou uma Seção do instituto no município de Juiz de Fora.
Homem
sereno, paciente e otimista, exemplo de dedicação ao trabalho e perseverança de
ideais, dotado de vasta cultura jurídica e humanística, Celso Cordeiro Machado
destacou-se como uma das mais eminentes figuras do cenário jurídico nacional.
Fonte: Com informações
da Revista do Instituto dos Advogados de MG
Edição comemorativa dos
90 anos da instituição
MEU ENCONTRO COM A HISTÓRIA
A importância da
própria história para o conhecimento de si mesmo.
O cultivo da história sempre foi uma vocação natural. Era
minha matéria predileta já nos tempos da escola primária. Mais tarde os temas
históricos eram os preferidos para as leituras e filmes.
Com o passar dos anos, fui entendendo que não era somente vocação, existiam
outros motivos pelos quais eu buscava tanto os fatos históricos. Tudo que fosse
relacionado a história me interessava. As
minhas inquietudes frente aos mistérios da vida ficavam cada vez mais agudas e
como muitos de meus ancestrais eu precisava saber mais sobre o que sou, de onde
vim e para onde vou? Questões que persistem para os homens a milhares de anos.
A milenar inscrição do Templo de Delfos desde muito cedo se manifestava
em mim como um anelo: “Conhece-te a ti mesmo! ” A busca que começou de forma
desordenada com leituras de muitas correntes de pensamentos e espiritualistas
ficou organizada e bem orientada quando encontrei uma escola, um método, ensinamentos e um ambiente adequado a este
tipo de estudos. Em 1987 incorporei este desafio na minha vida iniciando um
caminhar nesta senda que já dura quase trinta anos.
Sempre existiram em mim necessidades de conhecer a razão de ser das
coisas, a formação estrutural, a organização, a lógica de funcionamento. Estas
necessidades tornaram-se estímulos para procurar entender a essência de meu ser:
quais forças me movem, porque que sou como sou, quais as origens de meu pensar
e sentir, porque gosto ou não gosto de algo, porque das oscilações
temperamentais, o que tenho de bom e pode ser aprimorado, o que tenho em minha
conduta que precisa evoluir; etc., etc.
Nos estudos e experimentações necessários ao avanço do conhecer a mim
mesmo, constatei que o conhecimento da minha própria história é fundamental, descobri
que parte importante dos segredos do conhecimento do meu mundo interno, do que
penso e sinto, das reações, emoções, sensações e impressões, estavam dispersos
e encobertos em minha própria história. Descobri que nestas nuvens de fatos
perdidas nos tempos passados eu deveria buscar e tornar consciente todas as
influencias que recebi de tudo e de todas pessoas com as quais me relacionei desde
o dia em que nasci nesta etapa de vida.
Como era minha família? Quais as características psicológicas das pessoas
com as quais convivi? Quais heranças de conhecimentos recebi de meus
ancestrais? Avós, pais, tios, irmãos? E dos meus professores, amigos, colegas
de estudo? E as influências do ambiente de trabalho... E do meio ambiente
social? As inculcações de correntes políticas e religiosas... A influência da
mídia, dos modismos, da massificação de conceitos e preconceitos, e etc.
Enfim, a busca para identificar as influencias, ensinamentos e principalmente
os exemplos que recebi ao longo da vida e que foram determinantes na definição das
características de minha psicologia, de meu modo de ser, de meu caráter, de
meus hábitos?
Quando eu nasci, minha mente era uma “terra virgem e fértil”. Quem semeou
o que, nesta mente vazia e fértil para o aprendizado? Quando semeou, como, onde,
porque? Foram boas e puras as sementes dos conhecimentos que eu recebi? Quais sementes
não foram boas para a minha vida? Perguntas que somente podem ser respondidas na
investigação da minha própria história; respostas que para serem alcançadas
necessitam ser antecedidas pela formação de uma consistente base conceitual
sobre a concepção biopsicoespiritual do homem.
Aqueles que buscam o conhecimento de si mesmo, sabem que a investigação
da herança cultural desta etapa de vida, é somente uma parte do “conhece-te a
ti mesmo”. Que existem outros incontáveis aspectos a investigar, em especial a
própria herança espiritual.
Nestes estudos que realizei ao longo de anos sobre a minha própria
história e a história do Processo da Criação, fui alcançando algumas
compreensões que considero muito interessantes:
·
Que a história é a ciência que conserva todo conhecimento
abarcado pelo homem e também a base para o desenvolvimento da consciência
individual e coletiva.
·
Que toda documentação dos conhecimentos que
possibilitam a evolução do homem são documentos históricos.
·
Que
historiar é um exercício de recordar.
·
Que
a recordação contém a essência do eterno e não existem recordações sem as histórias.
Como
diz o dito popular “Recordar é viver”, é reviver, viver novamente.
Recordar
é dar ao coração. Recordar é dar cor e ação ao passado.
Recordar
é dar cor e vida aos sentimentos, é viver novamente em espírito, é eternizar.
·
Que
sem a história não existe consciência e sem a recordação não existe eternidade.
·
Que
é o exercício de recordar a história que nos possibilita unir as três dimensões
do tempo eterno: o passado, o presente e o futuro.
·
Que
a história traz o passado ao presente e levará o presente ao futuro.
A história se transformou em um precioso e prazeroso hobby.
No início os estudos objetivavam conhecer aspectos da história de minha família,
conhecer a minha herança cultural familiar; depois as pesquisas foram ampliadas
pois me senti atraído a viajar no tempo para melhor entendimento contextual de
situações e atitudes. Queria compreender as partes do passado que vivem em meu
presente integradas ao meu ser interno, e nestas buscas encontrei um tesouro:
os escritos de minha mãe contando a história da família e de nossa terra natal
Dionísio.
Estes documentos históricos produzidos por minha mãe me estimularam a
ampliar as pesquisas o que me proporcionou também a expansão da vibração, da
energia e da alegria no realizar este trabalho que me criou oportunidades de reencontro
com alguns velhos conhecidos, também a descoberta de milhares de fotos antigas
e alguns documentos raros em fundos de baús e gavetas. Vivi incontáveis horas
de conversas com os velhos conhecidos da família, ou com desconhecidos velhos e
encontrei novos conhecidos vivendo uma diversidade de contatos muito
enriquecedora sob todos os aspectos.
Pude vivenciar parcialmente o tempo em que viveram meus pais, o tempo em
que compadres e comadres ao final do dia se assentavam nos bancos frente às
casas para uma boa conversa. Senti um gostinho especial daquele acolhimento
afetuoso que existia entre as famílias amigas em um passado não muito distante.
Fui sempre recebido com o tradicional café acompanhado de tantas delicias
caseiras: pães de queijos, queijos da roça, broas de fubá, bolos e biscoitos de
polvilho que sempre surgiam durante as conversas que muitas vezes chegaram
quase ao amanhecer de um novo dia.
Mas existem muitos detalhes que agora não cabem neste relato.
As pesquisas foram atividades extraordinariamente sensíveis que tocaram
profundamente meu espírito; atividades absolutamente inesquecíveis nas quais eu
fui encontrando e reunindo fragmentos de minha vida herdados do passado.
Como resultado destas atividades foram produzidos vários trabalhos,
dentre os quais uma coletânea historiográfica sobre a minha cidade natal, que
já foi publicada e mais dois volumes que já estão preparados para a edição.
Criei também um site que armazena histórias de Dionísio e seus pioneiros; um
site de genealogia também dedicado as famílias dos Dionisianos. Produzi alguns pequenos
vídeos que também estão publicados. Passei a participar de grupos de
relacionamentos na Internet que além de integrar Dionisianos e Acesitanos em
seus respectivos grupos tem o objetivo de resgatar histórias e documentos.
Estes grupos na Internet objetivam também o cultivo da convivência entre
amigos de todos os tempos e integram hoje mais de duas mil pessoas. Neles são
trocadas notícias, histórias, fotografias e até documentos. É um recurso que
elimina as distancias físicas e descomplica as comunicações.
NOVAS POSSIBILIDADES PARA A
DOCUMENTAÇÃO HISTÓRICA
Meus primeiros esforços de organizar documentos históricos de forma digital
foram realizados em 1995, na ocasião da criação do Arquivo Histórico Nacional
da Fundação Logosófica do Brasil, mas os recursos dos computadores ainda eram
muito limitados em especial na capacidade de tratar e armazenar imagens. A digitalização
era muito lenta e os dispositivos não comportavam grandes volumes de dados.
Naqueles anos não existiam tantas facilidades e recursos como hoje, mas
levando comigo um computador e um digitalizador, pude recolher milhares de
fotos e centenas de documentos, o que sem estes recursos não seria possível. Tomar
tantas fotos emprestadas para copiar ou esperar que as pessoas me enviassem
copias pelo correio não era realizável. Todos são apegados aos seus documentos
antigos, em especial com as fotografias. Nesta reuni mais de 2500 fotos de
Dionísio e sua gente.
De 1998 aos dias atuais os recursos evoluíram extraordinariamente e praticamente
não temos mais as limitações de volume de armazenamento de imagens do passado
recente. Podemos, além de armazenar grandes volumes de informações, realizar
buscas de documentos de forma quase instantânea em nossos computadores e mesmo
à distância com extrema facilidade e rapidez utilizando a internet onde
encontramos ilimitados tipos e números de sites. Estes recursos permitem ampliar
a base de amostragem estatística das buscas, o que é de suma importância para gerar
resultados mais qualificados, mais confiáveis e próximos da verdade objetivada.
Em 1998 eu carregava duas maletas, uma com computador e outra com o
scanner; hoje posso usar somente um telefone celular com os recursos necessários
à documentação: fotografia, gravação de som e imagem, e aplicativo de digitalização.
Hoje cada um de nós registra a
própria história com centenas, milhares de fotografias e vídeos. Os
equipamentos fotográficos e de filmagem cada vez mais populares, possibilitam
os registros dos documentos com mais qualidade e agilidade. O estado, as grandes
empresas e as redes globalizadas reúnem cada vez mais informações sobre nossas
vidas; os sistemas integram e cruzam informações com velocidades jamais
pensadas a alguns anos atrás. A história já está sendo registrada de outra
forma e o volume da documentação da vida nos dias atuais é inimaginável, é
incomensurável.
Como devemos nos adequar a toda
esta documentação gerada pelas tecnologias atuais?
Que cuidados devemos ter no tratamento
desta imensa produção de documentos?
O que caracteriza um documento
como histórico? Como qualificar um documento histórico?
Como assegurar a verdade e a
confiabilidade da documentação histórica?
São questões sobre as quais precisamos pensar, sendo que algumas
são novas como as que referem aos grandes volumes de documentos gerados, e
outras nasceram com a própria história e existirão sempre. Eternamente existirão
os questionamentos sobre a qualidade das versões da história e a necessidade de
garantir a confiabilidade e verdade à mesma.
Na ata da reunião fundacional do IHGMG em 15 de
agosto de 1907, Dr. Diogo Vasconcelos, o orador oficial daquele memorável dia manifestou
sua preocupação com a qualidade e confiabilidade da documentação da história.
Disse
ele que a história não é apenas uma ciência das humanidades, mas sim “a mais humana dentre elas. Ela
(a história) deve ser fiel, verdadeira e severa e tem que ser escrita como ela
realmente é....” e complementou
ainda que além de fiel e verdadeira a história tem de ser escrita “...com um vasto levantamento documental,
que carregue a verdade”.
Diogo Vasconcelos, a
108 anos atrás compreendia com clareza três aspectos fundamentais para a
qualificação dos documentos históricos: a influência do relator ou historiador
no fato relatado, a fidelidade, a verdade do documento e o volume de documentos
para conferir segurança ao fato ou relato. (Visões humana, de qualidade e de
amostragem estatística)
González Pecotche nos
adverte:
“É sabido que a História
para ser verídica, deve estar legitimada por testemunhos indiscutíveis; por
verdades que concordem com nossa realidade interna, que é a que deve alentar o
juízo dos homens. Daí (da realidade interna) deve surgir a aceitação ou a não
aceitação das passagens históricas. Os fatos históricos somente podem ser
considerados incontestáveis, quando estão sustentados por realidades que livrem
a posteridade de toda suspeita acerca da fidelidade de sua origem”.
Investigando um documento histórico
quanto à sua forma física de apresentação na maioria dos casos através de
métodos científicos poderemos atestar a sua originalidade, e sua verdade se
torna inquestionável. Isto é feito para todos tipos de documentos históricos: monumentos
e edificações, fosseis, fotos, pinturas e desenhos, utensílios, ferramentas e
armas antigas, vestuário e, adornos, selos, medalhas e moedas, pergaminhos,
cartas, atas, registros cartoriais, decretos, livros, etc.
Mas, quando investigamos um
documento histórico quanto ao conteúdo,
grafado com símbolos ou palavras escritas ou mais recentemente com sons e
imagens, encontramos a influência do ser humano na história, encontramos a mais
humana dentre as ciências humanas. O conteúdo de qualquer documento registra sempre
o pensar e sentir de seu autor com suas infinitas variações que tem origem nos
diferentes níveis de conhecimentos, tipos psicológicos, modalidades e caráter.
Quando o historiador produziu seu
documento estava sob quais influencias e quais interesses?
Atendia a interesses de correntes
religiosas, ou ideais políticos, ou econômicos. Estava envolvido com fortes
sentimentos ou paixões.... Ou, mesmo sofrendo pressões, ameaças..., ou estava
sendo remunerado para contar uma história encomendada? Cada um relata o que naquele
momento de sua vida “acredita” ser a sua verdade, e que, circunstancialmente esta
verdade pode ser alterada pelas necessidades e interesses pessoais e
contextuais.
A Logosofia assim
define a autoridade do historiador:
“A autoridade do historiador se
constitui, ..., mediante a revivencia objetiva, subjetiva e concreta do fato, ou
seja, fazendo os demais conhecerem o fato por meio da razão e através das
consequências do mesmo, e mais ainda, fazendo possível reviver a imagem da
história com pessoas, ou com elementos ou coisas. É este o selo da legitimidade
do documento”.
“A autoridade do historiador
surge da evidencia com que demonstra um fato histórico e capacita ao que escuta
para que possa contemplar uma imagem real, com as suas próprias condições ou meios”.
Os relatos históricos carregam as
realidades individuais que podem conter fragmentos de verdades, ou meias
verdades ou mesmo mentiras frente a verdade absoluta da Mente Universal, da Inteligência
Suprema do Criador e as suas leis que regem a Criação. A verdade absoluta
sobre qualquer obra criada está na mente do Criador. O que concebe e realiza
detém a verdade sobre sua criação.
A documentação da história deve
ser verdadeira e volumosa, registrando com fidelidade o fato para permitir que
o investigador pesquise em múltiplos documentos as várias posições mentais e
sensíveis de historiadores diferentes. Analisando uma amostragem com diversas
visões e percepções se poderá extrair os fragmentos de verdade de cada
documento e uni-los validando seus conteúdos para alcançar e consolidar uma proximidade
maior com a verdade.
A principal meta é fazer com que documentação
da história vá se afastando do “Era uma vez...” e do empirismo e vá evoluindo no
atendimento às características que asseguram a confiabilidade como resultado da
qualificação atestada por métodos científicos.
Cento e oito anos após o
chamamento de Vasconcelos na ocasião da fundação deste IHGMG, temos as
possibilidades e potencialidades disponibilizadas pelas tecnologias em todos os
ramos das ciências e este desafio de ter documentos que carreguem a verdade
pode ser resolvido. Na atualidade a história já está sendo contada de forma
diferente, de forma a não deixar para o futuro nenhuma dúvida de como vivemos
hoje; o que fazemos, porque, para que, quem somos, etc.
Com as tecnologias atuais cada um
de nós já está registrando a própria história e produzindo um enorme volume de
fotografias e filmes. De forma similar isto também está sendo feito pelas
empresas, comunidades, cidades, estado, etc.
Os recursos do gerenciamento eletrônico de documentos permitem manusear
este volumoso acervo documental, realizando a validação, a classificação,
seleção, preservação e disponibilização a interessados em todo mundo. Já
podemos ter uma documentação volumosa, inquestionavelmente verdadeira e
confiável como já queria Diogo Vasconcelos.
Agora devemos nos preparar e nos
adequar aos novos recursos já disponíveis e já temos exemplos de destacadas e
consagradas instituições guardiãs de parte da história da humanidade que já
disponibilizam seus acervos para nossas pesquisas na Internet. Podemos visitar virtualmente
e pesquisar os acervos de centenas de museus, bibliotecas, órgãos de imprensa, universidades,
institutos, governo, etc.
Mas esta é só uma das facilidades
dos novos tempos. Brevemente cada um de nós estará usando a grande rede
globalizada para fazer envios e armazenamentos de documentos para os arquivos
de instituições que preservam a história. Qualquer cidadão conectado poderá
depositar seus documentos e histórias para preserva-los.
Estamos iniciando uma nova era na história da história, que
já não mais admite duvidas, tergiversações e mentiras. Temos que direcionar
esforços para a evolução da qualidade da documentação histórica objetivando a sua
mais importante característica de qualidade, a confiabilidade.
Na história já não cabem mais figuras
lendárias, mitológicas, milagrosas; muito menos cabem os falsos ídolos, os
falsos lideres, ou os super-heróis fantasiosos e mentirosos.
Esta é a nossa atual responsabilidade
frente ao futuro, responsabilidade que Diogo Vasconcelos, considerado por
muitos como o Heródoto mineiro, já aspirava desde a fundação do IHGMG em 1907.
A qualidade da documentação da história será determinante para evitar
que falsos líderes e falsos ídolos sejam transformados em mitos como tem
acontecido ao longo de séculos. Que cada homem possa ser avaliado no futuro
pelas obras de bem que produziu para sua geração e para as gerações futuras.
Nenhuma mentira resiste à ação do tempo.
O tempo é o maior amigo da verdade e seu principal aliado.
“A humanidade não pode viver de
lendas.
A história não pode ser uma construção apócrifa”.
Da
Logosofia
Nenhum comentário:
Postar um comentário